Luan
Passo o caminho todo observando a Marina dormir. Me vem na mente minha vó. Eu me lembro bem o quanto dói a sua perda.
O pai da Marina estranhou eu estar dormindo com ela, porém o momento não é apropriado para falar de relacionamento.
Ele que nos recebeu no aeoporto, sua expressão não definia qual o sentimento dele nesse momento. Ao ver a filha ainda meio grogue andando abraçada comigo, ele se assusta.
-por que ela está assim?-pergunta pra mim e a Marina volta a chorar
-ela estava muito agitada, muito nervosa, o Mario deu um calmante pra ela
-a mãe dela está da mesma forma-diz pra mim puxando a filha para um abraço que se desmanchou em lágrimas
Marina chora sem parar, porém está quieta, ainda com efeito do remédio. O mesmo não é forte, não é pra deixá-la dopada, dormindo por tempo indeterminado, mas pra que ela fique calma.
Seguimos pra casa dos pais dela e assim que entramos vejo sua mãe sentada no sofá, chorando em silêncio. Mesmo não estando em condições a Marina vai até a mãe e as duas se abraçam apertado.
-o que aconteceu?-a Marina pergunta devagar
-não é hora princesa-o Aparecido anuncia acariciando os cabelos dela
-você precisa descançar um pouco, tomar um banho-falo pra ela que me olha
Seus olhinhos inchados de tanto chorar fazem com que meu coração se aperte. Eu odeio vê-la triste, dessa forma. Odeio ver seus olhos suplicarem por compaixão.
-isso, suba pro quarto de hóspede com o Luan, toma um banho, seu tio Rogério está resolvendo tudo, o corpo não vai ser liberado agora-o pai dela tenta ser o mais delicado possível, porém ao ouvir a última parte ela e a mãe voltam a desabar
-sobe filha-a mãe dela pede ainda chorando, eu me levanto e estico a mão pra ela
-vem-chamo
Ela que tem seu olhar preso ao meu, segura minha mão, se levanta e abraça a minha cintura. Pego a bolsa que eu havia arrumado pra ela com uma peça de roupa e sigo em direção a escada. Sou guiado por ela naquela casa grande. Entramos em um quarto e ela me puxa pra deitar com ela na cama.
Nunca imaginei conhecer os pais dela nessa situação. Não tive nem oportunidade de falar com a mãe dela.
-você está sem proteção?-ela pergunta preocupada com a minha segurança
-o Cirilo veio com a gente, ele pegou um táxi no aeroporto e foi pra um hotel
-não precisava, ele podia ficar aqui
-não queremos incomodar, eu também vou pro hotel depois-aviso
-não-ela me aperta contra seu corpo-você não, por favor, me prometa que vai ficar do meu lado até quando eu dizer não-pede desesperada
-eu prometo-beijo o topo da sua cabeça-vou ficar ao seu lado
Consigo a convencer de ficar ali longe de tudo e de todos por um tempo. Ela chora baixinho deitada em meu peito.
-amor-chamo sua atenção e ela sorri pela primeira vez no dia de hoje-toma um banho
-vem comigo?
-deixei minha mochila lá em baixo
-vou buscar-ela se senta na cama arrumando o coque
-se seu pai chegar aqui ele vai pensar coisa errada
-ele sabe que não estou com cabeça pra isso e ele não vai aparecer aqui, já volto
Ela se levanta e saí do quarto. Me sento na cama sem graça e ela logo aparece. Seus olhos verdes já não estão com aquele brilho de sempre. Ela está deprimida e eu vejo isso de longe. Não é pra menos.
-vamos-ela me chama deixando a mochila na cama
Sigo ela até o banheiro do quarto. Ela por estar de vestido, tira a roupa rapidamente e entra nua no chuveiro. Mesmo que eu quisesse não consigo olhar pra ela com malícia nesse momento.
Tiro a minha roupa e entro com ela. Nosso banho é demorado. Suas lágrimas se misturam com a água da ducha. Tento ao máximo passar conforto a ela, mas sei que nesse momento não adianta pedir para não ficar triste ou algo do tipo. Isso é inevitável.
Já se passava das onze quando seguimos até onde o corpo seria velado. Ninguém queria adiar o sofrimento. Por isso o velório durou poucas horas. Foi algo reservado a família e amigos. Ninguém nos incomodou e quando isso foi tentado o Cirilo gentilmente pediu para que nos desse privacidade.
O efeito do remédio não durou mais tanto tempo. E quando o caixão foi fechado a Marina não suportou a despedida e passou mal. Fomos até o cemitério por pura insistência dela e o sofrimento foi ainda maior.
Quando finalmente chegamos na casa dos seus pais junto a sua irmã e seu cunhado. Pedi gentilmente por um calmante pra ela, mesmo depois de relutar ela bebeu e dormiu.
Velo seu sono por um momento e depois de um tempo desço para ligar pra alguém da minha família e avisar que está tudo bem.
Nem vi a hora que o Well voltou pro hotel. Eu havia recebido uma mensagem do Rober me avisando que já sabem que eu estou em BH, porém não há fotos, apenas fontes que afirmavam que eu estou com a Marina.
Depois de falar com minha mãe, fico apenas olhando a piscina ali do lado de fora. Quando sinto uma mão em meu braço. Levanto a cabeça e encontro meu quase sogro me olhando.
-cadê minha filha?
-está dormindo um pouco, dei outro calmante pra ela, ela estava muito agitada, inconformada, não aguento ver ela assim-sorrio sem graça
-você gosta dela-ele afirma-e isso não foi uma pergunta
-sim, eu gosto, eu fiquei casado por anos e nunca senti o que estou sentindo com a Marina. Eu estou perdidamente apaixonado por ela e eu farei exatamente tudo pra vê-la feliz, pra vê-la bem
-ela é daquele tipo que quando gosta de alguém ela realmente gosta, ela faz de tudo pra ver a pessoa bem, pra ela aquela frase 'a sua felicidade é a minha' faz todo sentido. Desde novinha ela sempre foi apegada a vó tanto minha mãe como a dona Isaura, não é a toa que a minha sogra é avó e madrinha da Marina. A Isaura sempre fez tudo pra Marina e a Marina sempre fez tudo pra vó. Essa é uma perda muito dolorida pra ela, eu sei que você pode ajudar a diminuir essa dor, distraí ela, ajuda ela a trabalhar bastante, não deixa ela sozinha não, por favor, eu te faço esse pedido como um pai desesperado
-eu não vou deixar ela sozinha, nunca mais, até que ela consiga ver essa perda de forma "positiva" eu serei o melhor amigo dela
-obrigado-ele estica a mão e eu aperto
-o que aconteceu?-pergunto em relação a vó da Marina e ele entende
-infarto, meu sogro estava com ela e apenas escutou um grito abafado, ele olhou e ela já estava praticamente morta
-eu sinto muito mesmo, qualquer coisa que vocês precisarem podem contar comigo
-obrigada novamente
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"Segura teu filho no colo
Sorria e abraça
Seus pais
Enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir"🎶😉
O Luan tá sendo muito fofo, ficando do lado dela no momento que ela mais precisa dele..
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