quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Capítulo 357 - Só um susto

Marina

-é claro que eu me importo comigo mesmo, mas eu me importo mais com vocês-ele dá de ombros
-ok, então eu me importo mais contigo e você a partir de hoje vai tomar esses remédios que ele passou tudo certinho-o sinal abre e eu coloco o carro pra andar novamente
-não quero-ele argumenta
-não tô perguntando se quer, eu estou afirmando que você vai tomar
-e se eu não fizer?-me encara
-eu volto pro meu apartamento com as crianças-o encaro de volta e seus olhos ficam esbugalhados-não vou ficar pra te ver morrer aos poucos, não vou mesmo, você que escolhe Luan
-para de graça-ele ri tentando descontrair o clima e perceber que era tudo uma piada, mas não é
-não é graça-me irrito-você não entende a gravidade da situação? É um problema no coração, os remédios servem pra te deixar bem, sem eles você fica mal, e se você escolher ficar sem os remédios, ficar sem se cuidar, eu vou embora. Eu tô com você pra ter uma vida longa, mas parece que você tá cagando pra isso
-eu não tô cagando pra isso Marina-diz ofendido
-é o que parece
-não fala bobagem, todo esse show por causa de alguns remédios, eu em-cruza os braços

Então é isso que ele acha que minha preocupação é? Um show? Pois que se dane.

Pego meu celular, abro o WhatsApp e entro no grupo da nossa família. Mudo o celular de mão e começo a gravar um áudio.

"Bom dia família linda, que o dia de vocês seja mais incrível do que vai ser o meu-Luan me olha-vim contar uma coisa delicada, mas não vou ser delicada pra falar. Luan está com um problema no coração e não está tomando as porras dos remédios que foram receitados a ele-Luan me olha transtornado, não sabe se aquilo é sério ou não-eu estou preocupada, mas ele acha que a minha preocupação, é show, portanto já deixo avisado, que se eu sair de casa é por isso. Não estarei o deixando, por causa da doença, mas por não querer ver meu marido morrer na minha frente e na frente dos nossos filhos, por puro capricho e desleixo de tomar os remédios. É isso, se alguém puder colocar juízo na cabeça dele, eu agradeço, já que tudo o que eu estou falando desde ontem, parece ter sido em vão."-encerro o áudio e envio, assim que vejo que foi, desligo meu celular e coloco em baixo da bunda

-você não mandou o áudio de verdade né?-ele pergunta
-você num disse que minha preocupação é um show? Pois então, acabei de dá um pra nossa família toda-viro a esquina
-não foi o que eu disse
-foi exatamente o que disse-chego na clínica

Ele pega o celular dele e abre o grupo, na mesma hora ele vê que realmente mandei o áudio.

-porra Marina, que desnecessário-ele dá um tapa no porta luvas assim que estaciono na garagem da clínica
-eu e nossos filhos não vamos ficar pra te ver morrer, mas talvez seus pais e sua irmã fiquem-tiro o cinto, pego minha bolsa e o celular, e desço do carro

Respiro fundo pra não manda-lo ir a merda e fico o esperando descer do carro, coisa que demora um pouco.

-ei-Luan se aproxima de mim assim que desce do carro, tento fugir, mas ele cola seu corpo no meu e eu fico entre ele e o carro-me desculpa, eu não quis dizer que sua preocupação era só um show
-foi o que disse-sinto minha voz falhar
-desculpa-ele faz um carinho em meu rosto
-você por acaso se lembra que eu quase perdi meu pai pro infarto? Ele ignorou um problema no coração, escondeu as dores que tava sentindo, até quase morrer, se lembra disso?-pergunto com a voz falha-eu não quero, nem posso perder você-minhas lágrimas saem sem permissão-por favor, não ignora isso
-você não vai me perder, é só um probleminha
-que pode virar um problemão-tento colocar juízo em sua cabeça-como é que você pode não ver isso? Você tá brincando com a sorte
-eu sou novo ainda, tenho saúde
-e daí? Isso não te impede de ser vítima
-amor..-o interrompo
-vamos entrar
-espera, por favor-implora
-vamos, depois a gente conversa
-tudo bem-ele aceita o fim da conversa por enquanto

Luan tenta pegar na minha mão, mas cruzo os braços e sigo afastada dele.

Entramos e a recepcionista do consultório sorri pro meu marido, toda vez é assim, ele sempre é simpático e hoje não seria diferente. Olho de cara feia pra mulher que nem se importa.

-viemos ver o Dimas-chamo a atenção dela e ela finalmente me olha
-ele já tá esperando vocês-ela sorri pra mim

Ela sai de trás do balcão e se aproxima, faz de tudo e esbarra no Luan. Assim que ela passa pela gente eu a sigo na frente e o Luan atrás de mim.

Ao entrar no consultório, ela anuncia nossa presente e nos dá espaço. Dimas já nos espera em pé, ele me cumprimenta e em seguida o Luan.

-pode sair-ele fala com a funcionária que toda sem graça sai do consultório-eu juro que se não fosse errado, eu iria puxar a sua orelha agora mesmo-ele diz bravo com o Luan-você simplesmente sumiu, não deu mais notícias, não atendeu meus telefonemas, não respondeu minhas mensagens, quase liguei pra Marina ou pro seu pai, só não fiz, porque prometi a você que não faria
-deveria ter ligado doutor, eu só soube de tudo ontem-falo mostrando a minha chateação
-sério?-ele pergunta surpreso olhando de mim pro Luan
-não queria preocupa-la, por isso não contei e se estou aqui agora é porque ela me fez entrar no carro e só depois me contou pra onde iríamos-Luan dá de ombros
-tem nem vergonha de admitir isso né?-Dimas parece um pai preocupado
-nós viemos aqui, porque eu quero saber tudo-deixo claro o motivo da visita-quero saber o que ele tem, os riscos disso, os tratamentos
-vou te explicar tudo e você Luan, vai ter que refazer os exames, preciso saber se o remédio está fazendo efeito
-ele não tá tomando os remédios, só quando sente dor no peito-deduro ele que me olha bravo, mas não tô nem ai
-isso é sério?-ele pergunta pro Luan que confirma com a cabeça-eu estou tentando te ajudar a ficar bem, a ter tempo com a sua família, mas parece que você quer o contrário, tá tentando se matar?-Dimas pergunta calmo, mas o seu rosto vermelho denúncia o quanto ele está bravo

Luan cruza os braços, coloca uma perna em cima da outra e fica em Silêncio sem olhar pra ninguém.

-eu tô falando você-Dimas aumenta a voz e o Luan olha pra ele
-eu sou novo ainda, vou fazer 34 anos o mês que vem, sou saudável, não preciso de remédio, meu remédio é o amor da minha família-ele continua irredutível
-é sério mesmo?-dessa vez ele pergunta pra mim e eu confirmo tristonha-eu sinto muito-ele diz carinhoso como sempre foi
-sente muito por quê? Eu tô vivo-Luan de intromete e o Dimas o ignora
-o que ele tem se chama Doença Arterial Coronariana, ela é caracterizada pela obstrução dos vasos sanguíneos que irrigam o coração, devido ao acúmulo de placas de gordura no interior desses vasos, o que acaba dificultando o trabalho do sangue para passar até ao músculo cardíaco. Além disso, quando uma dessas placas se rompe, ocorre diversas de ações inflamatórias que acabam resultando numa obstrução do vaso, fazendo com que o sangue deixe de passar completamente até ao coração e provocando morte dos tecidos cardíacos-ele diz e eu fecho os olhos
-o que pode acontecer caso isso aconteça?
-complicações gravíssimas como angina de peito, infarto, arritmia ou, até mesmo, morte súbita-ele diz com cuidado, mas mesmo assim me dói e sinto minhas lágrimas caírem
-amor-Luan tenta se aproximar e eu afasto a poltrona dele
-não encosta em mim, isso tudo é culpa sua-acuso
-tudo bem, eu faço isso por você
-por mim?-pergunto irônica-não é por mim que tem que fazer, pois sei que se for pra fazer só por mim, você vai ser disciplinado e tomar os remédios somente quando estiver em casa, eu quero que faça por você, pelo seu bem e por todo mundo que te ama-solto um suspiro profundo-Você acabou de escutar o que ele disse Luan, infarto, morte súbita e mesmo assim não muda de ideia? Quando vai mudar?
-tudo o que passei é muito simples, é pra fazer exercícios regularmente, comer comidas saudáveis, não fumar, nem beber, alguns remédio para controlar o colesterol dele que está sem elevado e remédios pra ajudar na circulação do sangue, simples, qual a dificuldade nisso?-Dimas pergunta olhando pro Luan
-nenhuma-ele bufa, parece perceber que não é nada complicado pra esse show que ele está fazendo
-pois então Luan, pra que essa resistência em se cuidar?-pergunta, mas meu marido fica calado-vai pelo menos refazer os exames pra eu saber como está?-pergunta preocupado
-sim-Luan confirma com a voz baixa
-então vamos fazer agora-ele sugere
-agora? Não precisa, marca um dia e eu venho depois-dá de ombros sem se importar
-agora-encaro o Luan, que solta um suspiro
-tudo bem-diz mesmo contrariado

Converso mais um pouco com o Dimas que me explica exatamente tudo o que preciso saber, passa uma nova receita pro Luan e se levanta pra nós acompanhar.

Andamos por toda aquela clínica gigante, descemos por um elevador pequeno e logo estávamos em um andar diferente, um andar cheio de salas com aparelhos de fazer exames de diversas formas. Somos recebidos pela a equipe do Dimas que foram muito simpáticos com a gente.

-fiquem a vontade, eles são de minha confiança, preciso voltar pra minha sala, pois tenho outra consulta agora, mas vejo vocês em breve, quando forem embora passem lá na recepção e marquem um dia para o retorno, vamos conversar sobre os exames ok?-ele como sempre maravilhoso
-obrigada por me atender e tentar me ajudar a colocar juízo na cabeça do meu marido-lhe dou um abraço rápido
-só quero vê-lo bem-ele aperta a mão do Luan e sai

Meu marido faz primeiramente exame de sangue, em seguida é submetido a uma tomografia computadorizada do coração e por último um eletrocardiograma pra não ter erro.

Fico sentada do lado de fora ansiosa pra ligar o meu celular e ver o que tá rolando no grupo da família.

Observo o celular do Luan em cima da cadeira ao lado e o pego na mão. Ligo a internet do celular e as mensagens começam a chegar sem parar. Só no grupo da nossa família chegam mais de 100 mensagens.

Espero tudo chegar e abro o grupo da família. A primeira a responder é a minha irmã que manda umas carinhas de assustada e em seguida come o toco do Luan.

Logo em seguida vem um áudio desesperador da minha sogra. Ela chora enquanto fala, quer dizer, enquanto implora para que o Luan se cuide.

Penso em ver mais coisas, porém escuto a voz do meu marido se despedindo. Droga, demorei demais pra pegar o celular dele. Ao escutar passos, bloqueio o celular e deixo na cadeira ao lado novamente.

-vamos?-ele pega as coisas dele
-já fez tudo?-finjo estar surpresa
-sim-concorda esticando a mão pra mim
-ótimo-ignoro sua mão e saío na frente
-turrona-diz baixo, mas eu escuto

Assim que entramos no pequeno elevador, ele fica de frente pra mim. Se aproxima e eu simplesmente não me importo, estou com tanta raiva por causa da sua falta de cuidados, que não sinto nada.

-eu tô bem oh-aponta pra ele
-por fora você tá ótimo, só não tá bem aqui-toco seu peito, do lado do coração-e se o seu não tá bom, o meu também não fica

O elevador abre e eu o empurro levemente pra sair daquele espaço, assim ele faz. Sigo ao seu lado e paramos na recepção.

-que dia podem retornar?
-quinta que vem-Luan diz adiando a volta
-por quê?
-esse final de semana começa meus shows de carnaval e eu preciso começar a me preparar desde hoje e eu tenho show até terça, na quarta quero descansar da correria-ele me convence
-tudo bem, quinta-feira que vem de manhã
-sacanagem-Luan reclama
-quer vim quando a Laura estiver em casa? Eu posso muito bem falar pra ela que vou trazer você no médico-cruzo os braços e ele faz mesmo
-melhor ela não saber-ele diz pensativo-quinta de manhã-fala com a moça que se arreganha pra ele
-para de dar em cima dele, ele é casado-falo com ela que rapidamente se contem
-marcado, quinta às oito da manhã
-obrigada-largo o Luan ali e sigo pra fora do consultório

Ando até o nosso carro, entro e fico esperando ele, que só dois minutos depois aparece com um sorriso no rosto.

Assim que ele entra no carro, ligo o mesmo e saío dali sem trocar nenhuma palavra com ele.

No meio do caminho, passo em uma farmácia e desço do carro levando a receita que o Dimas passou, a carteira do Luan e a chave do carro.

Compro tudo o que é preciso, pego umas balinhas sem açúcar que a Laura gosta e volto pro carro. Luan agora está sentado no banco do motorista e continua com aquele sorriso idiota.

-com licença-peço com a porta aberta
-me deixa dirigir-pede fazendo cara de cachorro sem dono
-não, vai pro banco de lá por favor
-não, eu quero dirigir
-então dirige-pego a minha bolsa, meu celular e jogo a chave nele
-onde vai?
-pedir um Uber ou pegar um táxi-viro as costas, mas ele segura meu braço
-vem vai, dirige-me dá a chave-desculpa, eu só queria que falasse comigo, não gosto dessa nossa falta de comunicação
-aqui estão os seus remédios, assim que chegarmos você vai começar a tomar
-tá bom-pega a sacola-só não vamos ficar assim
-se você tomar jeito-dou de ombros
-tá-me rouba um selinho e dá a volta no carro

Sento no banco do motorista e depois de estacionar na nossa garagem, desço levando as minhas coisas.

Sou a primeira a entrar e encontro a nossa família toda reunida, só falta a Lari que virá morar em São Paulo o mês que vem.

-cadê meu filho?-Marizete pergunta desesperada
-tá vindo, tenta colocar juízo na cabeça dele, eu tentei, mas não consegui-falo chateada e dou um beijo em sua bochecha-cadê meus filhos?
-Mariana está no parquinho com a Malu e os gêmeos, acordaram pra mamar e agora estão dormindo-Bruna que é a mais calma, me responde
-vou subir pra olha-los-mando beijo pra todo mundo e subo as escadas

Ao chegar no quarto dos gêmeos sinto o meu coração apertado. Me sento na poltrona e fico os observando por um tempo. Eles são tão pequenos, não consigo nem me imaginar criando eles sozinha. Isso não pode ser uma possibilidade, não pode!

Depois de alguns minutos com os meus pequenos, desço e escuto os sermões que meu pai está dando no Luan, ao invés de ficar ali, saio atrás da Mariana e a encontro correndo da Malu, toda desengonçada.

-vem filha-chamo e ela corre até mim, morrendo de rir-aprendeu a andar esses dias e agora já tá correndo sua sapeca-faço cócegas nela e beijo seu pescoço
-mama-ela diz tentando desviar dos meus carinhos e eu rio ainda mais
-o que aconteceu?-Malu se aproxima e aponta pra dentro de casa
-Luan está com problema de coração e não quer se cuidar-reviro os olhos
-ele é doido? Esqueceu do que seu pai passou? Esqueceu do que eu passei?
-pelo jeito sim-sorrio triste-ele descobriu esses problemas quando eu estava grávida da Mariana e a pequena já fez um ano, o que significa que ele está me escondendo isso a muito tempo, não sei nem o que pensar
-esse Luan, tomara que estejam enchendo ele de sermão
-tomara, porque eu já tentei, mas não sei se funcionou
-vai da certo, você vai ver-ela se aproxima mais e me abraça do jeito que dá

Fico mais alguns minutos ali, até escutar o Luan me chamar, respondo e ele aparece.

-vou subir pra dormir um pouco-ele pega a Mariana e brinca um pouco com ela
-vai tomar o remédio?-pergunto
-vou-diz como se aquilo não tivesse importância
-eu falei sério sobre tudo
-aham-dá um sorriso debochado e eu não digo mais nada

Ele brinca mais um pouco com a pequena, me entrega ela e sai. Solto um soluço preso e a Malu volta a me abraçar.

-vai dá certo, ele vai tomar
-quando eu subir e ele estiver dormindo, eu vou olhar os remédios, se ele não tiver tomado, vou pegar algumas coisas minha, umas coisas das crianças e vou dar um susto nele pra ver se ele se toca
-eu gostei da ideia-Malu ri diabolicamente e eu acabo rindo, contagiando minha filha

Me levanto com a pequena e a Malu me segue. Ao chegar na sala minha sogra se aproxima de mim.

-há quanto tempo sabe?-pergunta curiosa e parece pronta pra me atacar
-há algumas horas-conto e ela suspira aliviada-o Rober me contou ontem a noite!-afirmo-aquela hora que o Amarildo ligou pro Luan pra contar do sequestro e ele ficou em silêncio, foi porque sentiu uma dor no peito, dor essa que ele sente há algum tempo. O Rober percebeu que ele não tá tomando os remédios, ficou preocupado e resolveu me contar de uma vez
-ele disse que vai se cuidar-Mari me conta
-eu sei que ele foi dormir, vou esperar um pouco pra ter certeza que ele está no sono pesado e vou olhar os remédios que comprei, se ele não tiver tomado, vou sair daqui com nossos filhos-conto
-vai se separar?-meu pai pergunta preocupado
-não, só quero dar um susto nele, ver se ele se toca que se ele não se cuidar vai nos perder
-eu gosto da ideia-minha sogra me apoia-vou esperar, se ele não tiver tomado os remédios eu te ajudo a levar as crianças
-obrigada-sorrio mesmo sem muita vontade

Me sento ao lado da Bruna que me abraça de lado e faz com que eu deite a cabeça em seu ombro.

-cadê o Bernardo?-pergunto sobre o meu afilhado
-ficou com o Breno, eu precisava vim e o pequeno estava dormindo
-entendi, obrigada por estar aqui
-ele é cabeça dura, mas juntos somos mais fortes-ela alisa meu cabelo e o da Mariana que se joga pra ir pro colo dela

Marizete, minha mãe e a Malu sairam em direção a cozinha, meu pai e o Amarildo seguiram pro bar e nós duas ficamos sozinhas.

Não falamos nada, apenas recebo seu carinho e ela brinca com a minha pequena.

Quase uma hora depois, olho a tela do meu celular e percebo que está quase na hora da Laura chegar. Me levanto e subo as escadas contando os degraus. Ao entrar no quarto encontro o Luan deitado de barriga pra baixo só de camiseta e cueca. Sua boca aberta fala alguma coisa que não sou capaz de entender, sei que ele está em um sono pesado, pois ele só fala dormindo quando o sono é profundo.

Na poltrona do quarto vejo a sacola da farmácia, sigo até lá e abro a mesma. Um dos saquinhos de bala que comprei pra Laura está vazio, sinal que ele mexeu na sacola. Pego os remédios na mão e solto um suspiro pesado.

-por que você é tão cabeça dura?-falo com ele mesmo sabendo que ele não está escutando

Coloco as cartelas de remédios intactas de volta na sacola e ando até o meu closet. Arrumo uma mochila com roupas e dois sapatos, o resto eu peço ao Mario pra comprar.

Saio do closet carregando a bolsa e paro ao lado da cama, pego um pedaço de papel e uma caneta no meu criado mudo. Escrevo um bilhete mostrando toda a minha decepção e deixo embaixo do celular dele.

Saio do quarto carregando minhas coisas  e entro no quarto dos gêmeos. Arrumo uma bolsa grande pra cada e deixo na porta. Faço o mesmo no quarto da Mariana e quando chego no quarto da Laura separo roupas, sapatos e todo o seu material escolar.

Desço toda torta carregando todas as bolsas e ao chegar no fim da escada Bruna me olha e dá um sorriso triste.

-ele não tomou né?!-ela mais afirma do que pergunta
-não-coloco as bolsas no chão-ele mexeu na sacola da farmácia, comeu das balas que comprei pra Laura, mas não tomou os remédios
-Luan é um idiota-ela diz raivosa e em seguida faz careta olhando pro colo, me aproximo e encontro a Mariana quase dormindo
-se ele não mudar de ideia agora, ele não vai mudar nunca e eu não vou ficar aqui pra ver ele morrer sem se cuidar
-ele vai abrir os olhos, tenho certeza-Bruna afirma com convicção
-ele não tomou né?-minha sogra pergunta aparecendo na sala e vendo as nossas bolsas
-não-sorrio sem vontade
-já arrumou tudo?-respira fundo
-só vou pegar as mamadeiras e esperar a Laura chegar, ela vai ficar sem entender nada
-diz que o Luan saiu-meu sogro chega e sugere
-vocês almoçam em casa-Marizete diz tentando parecer animada
-ok, avisou a Tânia?
-sim, pedi pra ela fazer uma comida leve pro Luan pra quando ele acordar
-ok, obrigada

Deixo eles ali e sigo até a cozinha, Tânia ao ver minha cara de decepção me dá um abraço silencioso, ela não diz nada, apenas me aperta.

Assim que ela se afasta, beijo sua bochecha e pego todas as mamadeiras ali. Coloco junto na bolsa, leite em pó e o meu aparelho de tirar leite.

Assim que fecho a bolsa escuto um barulho de carro na garagem, demora poucos minutos até eu escutar a voz da Laura.

-cuida dele e se ele sentir algo, promete que me liga mesmo se ele disser que não?-converso com a Tânia e ela me olha sorrindo
-ele provavelmente me fará prometer que não vou dizer nada, mas como tô te prometendo primeiro, então é o que vale-ela sorri-prometo que ligo
-obrigada-volto a abraçar ela

Volto pra sala e já não encontro mais as bolsas ali perto da escada. Minha sogra me dá sinal e eu observo minha filha mais velha no colo do meu pai.

-vamos?-meu sogro me chama e só ai percebo que meus gêmeos já estão ali, Matheus no colo dele e a Manu no colo da Malu
-vamos-finjo comemorar

Ajeito meus filhos no carro grande que compramos pra caber a família toda, Bruna vai comigo, Dai irá nos seguir, meus pais no carro deles e meus sogros no carro deles.

Ligo o som bem baixo e vou o caminho todo escutando a Laura contar como foi o dia de hoje no colégio.

Ao parar na frente da casa da minha sogra, todo mundo para ao lado do carro pra me ajudar, isso me faz sorrir de verdade, saber que não estou sozinha é bom, aliás, é muito bom.

Almoçamos em um ótimo clima e depois de estarmos todos cheios, seguimos pro apartamento do Luan, é lá que ficarei. É grande, perto de todo mundo e não sai da rota da Daiane.

Assim que estaciono em uma das vagas do Luan percebo que o porteiro não está ali, é até melhor assim, ele não saberá que estou aqui e se o Luan vier perguntar ele dirá que não, bom, é o que eu espero.

Meu pai e meu sogro que vieram me ajudar, pegam algumas bolsas e cada um pega um dos gêmeos no bebê conforto.

Laura desce sem ajuda de ninguém e me ajuda a levar a bolsa com seus materiais escolares.

Bruna continua com a Mariana no colo e a Daiane me ajuda com o restante das bolsas.

Subimos todos juntos, deixamos tudo ali pela sala e a Laura sobe correndo pra escolher o quarto pra ela.

Meu pai se despede prometendo voltar mais tarde ou amanhã cedo, meu sogro da mesma forma e a Bruna também, ela tem o filho dela, os problemas dela, não pode simplesmente esquecer tudo por minha causa.

Depois de ficarmos só eu e a Dai, ela me ajuda a subir os gêmeos. Matheus que se mexe muito, coloco no berço que foi da Laura e ficou aqui. A Manuela eu deito na cama do meu quarto e coloco alguns travesseiros em volta dela e a Mariana eu deixo no moisés que tem na sala. Acabo rindo ao me lembrar das brigas que eu e o Luan tínhamos por causa do berço.

-Dai-chamo a atenção dela que ajuda a Laura na lição de casa
-oi-me encara
-se ele te ligar, não atende tá-peço e ela concorda sorrindo
-não vou atender, prometo
-obrigada, por tudo, por estar se virando em três pra me ajudar com as crianças
-estou sendo bem recompensada por isso-ela faz graça e consegue me fazer rir-brincadeira, você sabe o quanto me apeguei a todos eles, ficar um dia sem vim é tão triste, parece faltar algo-ela faz bico
-quero ver quando tiver os seus
-vai demorar um pouco, só quero ter quando eu tiver uns 35 anos, por ai, queremos aproveitar muito a vida a dois-ela explica
-aproveita mesmo-aconselho e ela sorri toda linda

Passaram-se algumas horas, meus filhos já estavam todos acordados e dando trabalho quando escuto meu celular tomar. Sei que é o Luan, o toque é diferente.

Pego o aparelho na mão e confirmo o que eu já sabia, ignoro a chamada, coloco meu celular no silencioso e fico prestando atenção em Moana, o filme que a Laura escolheu pra gente assistir.

Meu celular volta a acender algumas vezes e eu ignoro o mesmo, tento me concentrar no filme, mas já não consigo mais. Pego o aparelho na mão e na tela aparece uma nova mensagem de texto do Luan, sem resistir abro a mensagem que mesmo que eu dissesse que não, é visível que ela partiu meu coração.

"Meu coração já tá uma merda, não termina de destruir ele assim 💔"






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Oiiiii
Dessa vez eu demorei, mas pelo menos vim com um capítulo decente de tamanho né?! Digam que sim 🙏
😚❤️

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Capítulo 356 - Eu me importo

Marina

As mensagens do Rober me preocuparam e muito. Saber que meu marido está com problema e eu nem soube, me deixou com muita raiva e saber que ele não está tomando os remédios receitados, fez meu coração sangrar.

Enrolo o máximo que consigo no quarto dos gêmeos e quando percebo que não tem jeito, que preciso ir até lá e resolver isso, eu saio e ando lentamente pelo corredor.

Quando finalmente passo pela porta do quarto, me viro de costas pra ele e tranco a mesma. Encosto minha cabeça na porta e respiro fundo pra não ser grossa.

-por que não me contou?-pergunto ainda sem o olhar
-contou o que?-tomo coragem e me viro pra ele que está sentado na cama, com cara de dúvida
-que tá com problema de coração e precisa tomar remédio-digo dessa vez sem conter a minha fúria e cruzo os braços na altura do peito
-quê? Que conversa é essa?-ele me parece desesperado
-não se faz de sonso-me aproximo da cama apontando o dedo pra ele
-quem falou isso?-ele pergunta e eu fico quieta, ele parece pensar e em seguida bate na própria testa-Testudo filho da puta
-foi ele mesmo-falo de uma vez-e ele fez, porque ficou preocupado contigo, porque ele disse que te viu quase morrendo de dor
-eu não tava morrendo, a dor é forte, mas depois vai embora, você já presenciou isso, sabe como é
-tá pior-afirmo e ele nega-tá pior-repito minhas hipóteses
-não tá-ele mente na cara dura
-NÃO MENTE PRA MIM-grito irritada com as suas mentiras
-ok-ele suspira-lembra quando você engravidou da Mariana, que meus exames deram alterações?-confirmo que lembro com a cabeça-então, eu fui no médico, ele pediu pra que eu fizesse novos exames, dessa vez mais detalhados, nos resultados deu um problema lá que eu nem sei o nome, não prestei muita atenção. O Dimas passou uns remédios pra eu tomar diariamente, mas eu só tomo quando sinto dor que é quando acho necessário, eu tenho que ficar refazendo os exames, mas também já faz tempo que não faço e é isso. Tá tudo bem, você convive comigo sempre, passamos juntos os últimos quatro, cinco meses inteirinhos, você sabe que eu tô bem
-não tá seu idiota-falo o mais alto que consigo por causa de um bolo que se formou em minha garganta-nesses meses às vezes eu te via paralisado com as mãos apertando as coxas, eu perguntava se estava tudo bem e você dizia que sim, mas agora sei que é mentira, você tomava remédio do nada e dizia que era dor de cabeça ou outra dor e eu sonsa acreditava..-ele me interrompe
-você não é sonsa, eu sou, você não-ele se levanta e tenta se aproximar, mas eu recuo
-sou sonsa sim, por achar que eu sabia tudo e estava cuidando da minha família da maneira adequada, sou sonsa por dividir tudo contigo, sou sonsa por achar que casamento é dividir toda uma vida-sinto o choro aparecer e controlo ele dentro da minha boca
-amor, não é assim, eu sempre divido tudo contigo, foi só isso que eu escondi-ele pega em minhas mãos e me olha assustado ao ver que estou gelada
-só isso?-dou uma risada debochada-você acha que um problema no coração é "só isso"?
-não foi o que eu quis dizer-ele tenta se corrigir
-foi o que pareceu-solto minhas mãos e ele fica me olhando
-me desculpa, eu só não quis preocupar você
-você me faz contar até quando tô fazendo a unha e machuca, por que foi que você pensou que eu não poderia fazer isso por você? Por que achou que eu não tinha que meu preocupar? E se Deus o livre e guarde, acontece algo contigo Luan, imagina minha cara ao saber que eu nunca pude fazer nada por você?
-desculpa-tenta de novo
-isso não é dividir uma vida, esconder uma coisa dessas não é dividir tudo, estou decepcionada com você, jamais pensei que iria mentir tanto pra mim-destranco a porta
-ei, onde vai?-segura meu braço
-dormir no quarto de um dos meus filhos-me aproximo do criado e pego a babá eletrônica e meu celular
-amor, espera, não foi tão grave assim essa mentirinha, eu só não queria te preocupar
-e se eu não contasse a você sobre o sequestro só pra não te preocupar e você descobrisse por alguém, você faria o que? Acharia tudo normal? Nada de grave?
-essa é outra situação, não tem comparação
-é a mesma coisa
-não é, você tava correndo risco de vida Marina, é diferente
-eu estava correndo, no verbo passado, você está, no verbo presente, pensa nisso-abro a porta e ando pelo corredor, mas ele não desiste e vem atrás
-espera, vamô conversar direito-me segura pelo braço-eu acabei de chegar amor, me desculpa vai
-não tenho mais o que falar contigo hoje, por favor, me deixa quieta-me solto
-espera sereia
-respeita o que eu tô pedindo, amanhã conversamos, já passei nervoso demais por hoje-continuo meu caminho e dessa vez ele me deixa ir

Entro no quarto da Mariana, tranco a porta e me sento no chão sentindo meu mundo caindo aos poucos.

Só de pensar que algo pode acontecer com o Luan, meu coração já fica pequeno, eu não sei seguir sem ele e eu tenho muito medo disso, dessa sensação, dessa possibilidade.

Choro! Choro de raiva, de ódio, de medo e preocupação, Luan está tão nem ai pra isso que além de não estar tomando os remédios, ele não faz a mínima ideia do que é que ele tem, mas eu preciso saber, preciso saber o tamanho da gravidade disso tudo, preciso ter certeza que há esperança dele ficar aqui, até que Deus me leve.

Vejo as horas passando e não consigo dormir de jeito nenhum. Meus gêmeos dormem até às cinco da manhã, me levanto ao escutar pela babá eles chorando. Sigo até o quarto deles, vejo que o Matheus está cagado e limpo ele primeiro, já que seu choro é muito mais alto e pode acordar às outras pessoas.

Depois de deixar ele pronto, dou mama e ele logo volta a dormir. Pego a Manuela, troco sua roupa, dou de mama e ela adormece logo.

Deixo eles no berço e sigo pro quarto da Laura, ela dorme tranquilamente e eu suspiro olhando a cena, ela é tão linda.

Aproveito a minha falta de sono, deixo a Laura dormindo e desço as escadas, faço um café da manhã caprichado e deixo na mesa, já preparo o misto da Laura e deixo na sanduicheira, quando a descer eu só coloco pra esquentar.

Depois de tudo pronto, subo e vou direto pro meu quarto, ao entrar vejo meu marido acordado, olhando o nada e pelo jeito não dormiu também.

-bom dia-ele diz ao me ver

Deixo a babá eletrônica no criado mudo junto com meu celular e nem o olho.

-bom dia-respondo por educação
-podemos conversar já?-pergunta ansioso ao me ver responder seu bom dia
-não-entro no closet

Pego uma roupa pra mim, um tênis confortável e saío daqui, entro direto no banheiro e tranco a porta.

Escovo meus dentes, lavo o rosto e tomo um banho sem lavar o cabelo, me visto ainda no banheiro e saío pronta, só faltando o tênis. Sigo direto pro closet, calço o sapato, troco de bolsa e saio depois de borrifar perfume em mim.

-onde vai?-Luan pergunta me olhando
-levar a Laura na escola-digo como se fosse óbvio
-que? Não, lógico que não, esqueceu o que aconteceu ontem?
-não esqueci, mas não vou deixar de fazer o que eu mais gosto, só por causa desses bandidos de merda
-eu ainda não contratei o segurança pra você Marina
-eu vou mesmo assim-tento encerrar o assunto
-ok, tá puta comigo? Beleza, eu entendo, eu errei em te esconder isso, mas não faz essas coisas
-eu não tô fazendo nada fora do normal Luan
-claro que tá, você foi sequestrada ontem Marina, não faz burrada, eu vou levar a Laura e você fica
-não-falo o óbvio
-sim Marina-ele levanta e segue pro closet

Ignoro seu pedido e sigo até o quarto da Laura, ela permanece dormindo. Me aproximo da cama faço carinho em seu rosto e a acordo com toda delicadeza de sempre. Ela abre os olhinhos e ao me ver me abraça, isso é quase um ritual da manhã.

-bora levantar, ir pra escola
-papai chegou?-pergunta se animando
-sim, chegou, tá se arrumando pra te levar no colégio
-ele vai me levar?
-não, eu que vou-dou de ombros
-deixa o papai me levar mamãe, por favor-ela se senta implorando
-credo, não gosta mais que eu te leve?-faço bico
-gosto, mas tô com saudade do papai-ela também faz bico
-ok, vai se arrumar-me levanto
-vai ficar brava comigo?-faz carinha de choro e eu volto a me agachar na sua frente
-claro que não amor, quando você voltar vamos ter aula de piano, quer?
-quero-ela bate palmas animada
-então vai, levanta pra ir pra escola-ajudo ela a descer da cama

Ela segue direto pro banheiro, separo a roupa dela, arrumo sua mochila e deixo em cima da cama. Laura toma um banho rápido sem molhar o cabelo, se aproxima de mim e eu confiro se ela escovou os dentes direitinho. Logo em seguida ela se arruma sozinha e fica me olhando pra eu arrumar seu cabelo.

-vem-chamo já com a escova na mão

Me sento na cama e ela senta entre as minhas pernas. Arrumo seu cabelo e assim que fica do jeito que ela gosta, beijo sua bochecha e sussurro muitas vezes o quanto a amo e como ela é importante pra mim.

Depois da melação de sempre, ela desce da cama e abre seu porta jóias, escolhe um dos arquinhos de pérolas que ela tem e coloca no cabelo.

-já tá pronta-escuto a voz do Luan na porta e reviro os olhos sem paciência pra ele
-papai-a pequena corre em direção a ele e eu nem me mexo

Eles conversam, ela diz que estava com saudade, ele diz que a ama muito e todo o papo gira em torno disso.

-você vai me levar-Laura conta
-vou-ele afirma com convicção, acho que é pra me convencer
-eu sei papai-ela ri-eu pedi e a mamãe deixou
-ah, ela deixou?-ele diz querendo me insultar

Me levanto e passo por eles sem dizer nada. Desço as escadas e encontro meu pai e meu sogro sentados no sofá.

-o que tão fazendo aqui uma hora dessas?-pergunto chamando a atenção deles
-viemos buscar a Laura pra levar na escola-eles falam a mesma frase e juntinhos, dou risada dos dois
-Luan já chegou, ele vai levar ela-me aproximo e beijo a bochecha deles
-vamos juntos-meu pai diz preocupado
-falem com ele-dou de ombros

Deixo eles ali e sigo pra cozinha, encontro a Tânia e lhe assusto ao dá um beijo em sua bochecha.

-desculpa-peço rindo da cara dela
-ri mesmo viu-revira os olhos pra mim e eu apenas continuo com a minha crise-você que arrumou o café da manhã ou alguém dormiu ai?-esse alguém a quem ela se refere é a Malu
-foi eu ciumenta, ninguém dormiu aqui não
-hum, que bom né?
-bom dia Tânia-Luan entra na cozinha, meu riso para e eu saío daquele espaço

Laura segue pra cozinha pra dá bom dia e logo volta. Esquento seu misto, preparo o leite do jeito que ela gosta e faço o mesmo pra mim.

Luan se senta com a gente e conversa com a Laura que responde enquanto come. Depois de satisfeita, minha filha pede licença e sobe as escadas pra escovar os dentes. Luan fica alguns minutos em silêncio só me olhando, até abrir a boca.

-vai ficar fugindo de mim?
-tô fugindo da vontade de te esganar, só isso, me deixa quieta
-desculpa vai
-você tá mentindo pra mim a mais de um ano Luan, tem noção disso?-lhe encaro
-eu tenho noção, só não queria te preocupar
-estou ainda mais preocupada agora, só de saber que você não está se cuidando e que tudo isso pode ter piorado
-amor-ele segura minha mão que está sobre a mesa
-voltei-Laura reaparece, mas o Luan não desvia o olhar
-vai lá, depois conversamos
-ok-ele suspira e se levanta

Vejo ele ir e nossos pais o seguem. Me sento no sofá e fico ali desolada, pego meu celular e no calor da emoção, ligo pro Dimas, nosso médico e marco uma consulta. Já mando uma mensagem no nosso grupo de meninas pedindo pra alguém vim ficar com meus filhos por algumas horas. Nossas mães são as primeiras a responder que estão vindo. Largo o celular, tiro leite suficiente pros meu filhos ficarem bem alimentados, pego os documentos do Luan e volto a ficar sentada no sofá, só esperando.

Escuto um barulho de carro lá fora e em seguida campainha, abro a porta e me surpreendo ao ver minha mãe e minha sogra juntas.

-nós combinamos de vim juntas-minha mãe explica

Cumprimento as duas e as poucos pra dentro. Elas perguntam o motivo da minha saída, mas minto sem nem ter muita opção.

O barulho do portão da garagem me faz levantar do sofá e pegar minhas coisas.

-tô indo, avisem a Tânia que saímos, qualquer coisa liguem, vocês sabem onde está tudo e na cozinha tem algumas mamadeiras de leite que eu tirei, beijo-jogo beijo pras duas

Ando de pressa até a garagem e encontro eles subindo as escadas de acesso a casa. Passo pelos nossos pais e paro na frente do Luan.

-volta-falo séria e assim ele faz sem perguntar nada

Pego a chave de sua mão e entro do lado do motorista, Luan dá a volta e entra do lado do passageiro.

Saio com o carro da garagem e começo a seguir o nosso caminho. Luan vai em silêncio por um tempo, mas quando paro em um sinal ele resolve perguntar.

-pra onde vamos?
-pro Dimas, se você não se importa contigo, eu me importo, quero saber o que é que você tem





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Olá, tenho certeza que sentiram saudade né? Também senti ❤️
Eu nem prometo mais nada por aqui, mas vou tentar vir com mais frequência viu, não desistam de mim!
Estou trabalhando de manhã e a tarde fico com a minha sobrinha, não é questão de não querer vim aqui postar, é questão de estar sem fempo
Vou tentar adiantar alguns capítulos 😘

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Capítulo 355 - De volta pra casa

Luan

-Marina sofreu um sequestro relâmpago-ele diz e o celular cai da minha mão-Luan?-escuto sua voz longe

Sinto o ar faltar aos meus pulmões e aquela dor que eu sinto algumas vezes no coração, voltar. Meu peito dói, parece que meu coração está sendo esmagado pelas mãos de alguém.

Sei que a dor não é algo da minha imaginação, pelo contrário, ela é real, muito real.

Aliso o meu peito na intenção de fazer a dor parar, mas ela é tão forte que me faz chorar.

-Luan-escuto ao longe alguém gritando o meu nome-abre a porta, abre aqui-é a voz do Rober-porra Luan, abre essa porta-ele bate insistentemente

Me levanto mesmo com dor e abro a porta. Rober entra desesperado e ao ver minha cara, ele me ajuda a voltar pro quarto e sentar.

-seu viado filho da puta, fala comigo-ele tenta me fazer falar-Luan você tá branco, o que tá sentindo?
-aquela dor-resmungo
-você tá tomando o remédio que o Dimas receitou?-pergunta e eu desvio meu olhar-PUTA QUE PARIU LUAN, TÁ QUERENDO MORRER?-ele me dá um empurrão-respira cara de lua, respira

Ele corre pra abrir a porta da varanda e faz o ar entrar, em seguida ele revira minhas coisas até encontrar meus remédios pro coração. Ele pega água, o remédio e me dá. Eu bebo sem muita pressa, já que sinto que a dor está diminuir de intensidade.

Aos poucos a dor some e eu consigo respirar normalmente. Procuro desesperado pelo meu celular e o encontro no chão.

-seu pai me ligou desesperado, ele sabe?-Rober pergunta e eu nego
-ele me deu uma notícia péssima e eu não consegui responder ele, provavelmente ele ficou preocupado
-que notícia?
-Marina foi sequestrada-pego meu celular e disco os números do meu pai
-QUE?-Testa dá um grito de desespero

Meu pai atende a chamada rapidamente e o meu coração se alivia ao escutar a voz da minha mulher.

Ligação on 📲
-amor, você tá bem?-ela pergunta assustada
-como foi isso? O que aconteceu? Tá tudo bem?-me atropelo todo enquanto pergunto
-eu percebi que tinha alguém me seguindo enquanto eu estava levando a Laura pra escola, mas ai quando virei na rua do colégio o carro passou direto e eu achei que era coisa da minha cabeça. Deixei a Laura no colégio e sai, estava eu vindo embora quando tive que parar em um sinal vermelho, foi tudo muito rápido, logo vi uma arma no vidro e em seguida eles forçaram um ferro na fechadura da porta até ela abrir, eu tentei meter o pé e fugir, mas não deu tempo, foi tudo muito rápido. O cara com a arma apontada pra minha cabeça, me pediu pra sentar no banco do passageiro e ficar quieta, um outro cara entrou no banco de trás e também apontou uma arma na minha cabeça, nisso tudo eu só tive tempo de ativar o botão de sequestro do carro e no aplicativo do meu celular, a polícia logo nos encontrou com um helicóptero. Graças a Deus eles só levaram tudo de valor que eu tinha, correram pro carro que eles me seguiram e me deixaram no meu carro parada no meio de uma rodovia
-meu Deus-solto um suspiro-tá vendo, é por isso que eu digo que você tem que ter um segurança, eles podiam ter atirado em você, te machucado, meu Deus Sereia-suspiro ainda mais profundamente-jura que tá bem, que não fizeram nada contigo?-pergunto apressado, preciso ter certeza sobre isso
-sim, agora tô bem, tô aqui na delegacia e já, já vou pra casa
-eu vou voltar-decido
-não precisa, amanhã você já tá em casa, faz seu Show, depois você vem, tá tudo bem, eu juro, poderia ter sido pior, mas eles só levaram minhas jóias, dinheiro que eu tinha na carteira e o meu celular, nem o carro eles levaram
-provavelmente sabiam que não conseguiriam fugir com o seu carro, já que tem monitoramento-me acalmo-vou providenciar outro celular pra você
-não precisa, o seu pai já fez isso, estão tentando apagar os dados do outro celular, lá tinha tanta coisa, inclusive foto e vídeo do seu precioso e da minha preciosa-ela fala baixo e eu me assusto
-é sério?
-sim, é sério! Eu espero que consigam apagar tudo, se não estamos ferrados, vão jogar fotos e vídeos nossos nas redes
-vamos deixar pra nos preocupar quando acontecer, caso aconteça
-tá bom
-tem certeza que tá bem?
-sim, tenho-escuto ela rir baixinho-suas fãs bem que vão gostar dos seus nudes
-para de falar disso, já tô desesperado só de pensar em alguém olhando nude seu-coço a cabeça sem graça e o Testa ri da minha cara
-parei-ela se contém-eu tava com a minha aliança de casamento, só que antes de sair o Matheus acordou cagado e eu fui trocá-lo, tirei a aliança pra não sujar ou molhar e esqueci de colocar de novo, tô tão feliz por não ter perdido ela, por ter esquecido de colocá-la pela primeira vez na vida-escutar sua voz me acalma
-nunca pensei que eu ficaria feliz por você estar sem aliança-ela ri de mim
-estou feliz também-ela solta um suspiro-estou tão aliviada por isso ter acontecido quando eu estava sozinha, se a Laura tivesse junto com certeza isso seria um problema, ela ficaria traumatizada com tudo
-talvez eles pensaram que ela choraria, sei lá, graças a Deus que ele não passou por isso, não quero nem imaginar-passo a mão no cabelo insistentemente e escuto ela cochichar com alguém-o que foi?-pergunto preocupado
-pegaram dois dos caras, outros dois fugiram-ela diz amedrontada
-vou contratar um segurança pra vocês e não aceito não como resposta, é sério Marina, eles podem tentar de novo
-eu acho que não vão tentar, mas tudo bem, eu aceito, podemos falar com um dos seguranças do estúdio, eu já os conheço, são de minha confiança
-depois do show eu já vou embora, chego em casa de madrugada e ai amanhã resolvemos isso certinho
-tudo bem, não se preocupa, eu estou bem, na hora de buscar a Laura o seu pai que vai lá com o meu pai, tá tudo certo
-tem certeza mesmo né?
-sim, absoluta, agora vai dormir, sei que ainda nem dormiu, já já tô em casa e te mando mensagem do celular da minha mãe
-tudo bem, não esquece de me avisar que chegou bem, eu tô preocupado
-não fica, agora tá tudo bem, eu juro
-eu amo você sereia
-e eu amo você ursinho, muito mesmo, agora tchau, vou desligar, porque sei que você não fará-ela ri e em seguida só escuto silêncio e percebo que ela realmente encerrou a chamada
Ligação off 📲

-e ai? Tá tudo bem?-Testa pergunta tão preocupado quanto eu
-a gente tem aquele aplicativo de sequestro e tem aquele botão no carro né?-explico a ele que concorda-Marina tinha deixado a Laura na escola quando foi abordada, rapidamente ela acionou o botão e o aplicativo, quando os caras perceberam que tinha polícia até de helicóptero eles largaram Marina no carro em uma rodovia e só levaram dinheiro, as jóias e o celular dela-resumo a história-ela tá na delegacia já, tá tudo bem, segundo ela
-que bom-ele suspira profundamente como se tirasse um peso das costas-deixa eu fazer uma pergunta idiota?
-já tá fazendo-me deito direito na cama e dou risada da cara que ele faz
-ha ha ha, você é super engraçado-ele faz careta me fazendo rir ainda mais
-faz logo a pergunta idiota
-Marina sabe que seus novos exames de coração deram problemas e que tá "tomando" remédio?-faz aspas no tomando
-lógico que não, tá doido?
-como não Luan? Você nem tá tomando esse caralho né!?
-não mesmo, não preciso, tô bem
-se tivesse o médico não recomendaria o remédio, deixa de ser idiota, você não é médico pra se alto diagnosticar
-eu sei quando não tô bem-fecho os olhos-e sai do meu quarto que eu quero dormir
-não vai adiantar eu mandar você tomar o remédio direitinho né?
-não, agora sai-tampo a cabeça
-espera viu, espera-ele ameaça
-o que quis dizer com isso?-me sento, mas ele me ignora e sai do quarto

Fico deitado mexendo no celular e sem conseguir dormir, quando finalmente a Marina me manda mensagem dizendo que está em casa, eu largo o celular e consigo capotar.

Acordo com meu celular tocando, desperto meio assustado com medo de ter acontecido algo com meus amores e me sento na cama com o celular na mão. Ao olhar a tela, vejo que é o Testa. Atendo a chamada, mas no segundo seguinte ela se encerra.

Desbloqueio meu celular que está cheio de mensagens do Rober mandando eu ir me arrumar que meu almoço chega em 10 minutos e vamos sair em meia hora.

Mando mensagem pra Marina pra saber se está tudo bem e me arrasto até o banheiro. Tomo logo um banho gelado pra despertar um pouco e saio de toalha. Me arrumo e arrumo minha mala, que eu aprendi a fazer sozinho, já que a Marina odiava quando eu pedia pro Rober fazer isso.

Depois de deixar tudo pronto, volto a pegar o celular na mão e tem resposta da Marina. Começamos uma conversa que é interrompida pelo meu almoço chegando.

Como enquanto escuto música e depois de terminar, escovo os dentes. Mal volto a pegar o celular e a campainha volta a tocar. É o Testa.

Pego minha mala e arrasto pra fora do quarto, Well manda esperar e sai com as minhas coisas.

Fico no quarto com o Testa que fica com a cara no celular. Ignoro ele e espero o Well reaparecer.

Seguimos até o hall do hotel, atendo todo mundo e na saída atendo os fãs. Logo estávamos na van seguindo pro aeroporto.

Rico foi o que mais falou no caminho, já eu, fui grudado no celular conversando com a Marina, só terei certeza que tá tudo bem quando eu estiver com ela.

No aeroporto também atendo todo mundo que consigo e em seguida decolamos em direção ao Rio onde será o show de hoje.

O vôo foi tranquilo e depois de pousar foi um pouco conturbado pra sair do aeroporto e no hotel a mesma coisa.

Depois de conseguir subir pro quarto, me arrumo sem pressa enquanto continuo a falar com a Marina que se desdobra entre me dá atenção e dá atenção as crianças.

Depois de algumas horas já estávamos todos no camarim, faço o atendimento aos fãs e na hora da imprensa, estava tudo uma bagunça, alguém descobriu sobre o sequestro e todos queriam saber notícias e novidades que eles desconhecem. Peço pro Testa proibir perguntas do tipo e assim ele faz.

Dou as minhas entrevistas empolgado por estar no Rio e ainda mais em saber que daqui a pouco vou pra casa.

-tá na hora-Rico avisa e se aproxima com o ponto e microfone

Me ajeito e sigo com ele e o negão pro palco. Depois da abertura, eu faço minha entrada triunfal sentindo a boa energia do público do Rio. Eles são sempre calorentos assim e eu nunca me canso de fazer sol aqui.

Dou o meu melhor no palco, canto meus sucessos e converso com o público entre uma música e outra.

Assim que o show termina, atendo as pessoas perto da saída do palco e continuo meu caminho até o camarim.

Também não demoramos muito a ir embora e depois de pegar nossas malas no hotel, seguimos de volta ao aeroporto.

Pego meu celular pronto pra ler as mensagens da minha mulher, mas percebo que ela cortou nosso último a assunto e só mandou um "Te espero em casa!!"

Sei que quando eu chegar eu mal vou dormi, então aproveito a pequena viagem até São Paulo, pra ir dormindo.

Acordo com o negão me chamando, olho o meu celular e já são quase 3 da manhã. Por quase ninguém saber que eu viajaria depois do show, somente duas meninas me esperam.

Desço da van, atendo com muito carinho e atenção. Tivemos um papo rápido sobre o sequestro da Marina que todo mundo já está sabendo e todas as minhas fãs estão preocupadas, peço pra meninas tranquilizarem todo mundo e pra conseguir fazer isso gravo um áudio em um grupo de fãs e em seguida peço pra que todos compartilhem.

Sigo pra casa sossegado e aliviado. Assim que o Fabiano para na frente, eu respiro fundo.

Well e o Rico tiram minhas malas da van enquanto eu vou abrindo a casa. Ajudo eles a deixar tudo ali na sala, me despeço e tranco a porta.

Subo as escadas devagar, passo no quarto da Laura, dou um beijo de boa noite, em seguida passo no quarto da Mariana, faço o mesmo e sigo até o quarto dos gêmeos, assim que abro a porta dou de cara com a Marina sentada na poltrona com o Matheus no colo e o pequeno mama feito um bezerro.

-tá tudo bem?-pergunto aliviado e me aproximo dela
-com a gente sim-me encara e sua cara é de poucos amigos
-que foi?
-depois Luan-ela volta a olhar o Matheus mamando

Me aproximo do berço da Manuela, dou um beijo, volto a me aproximar da poltrona, beijo a cabeça do Matheus e sigo pro nosso quarto.

Tiro a minha roupa e coloco uma confortável pra dormir. Me deito na cama com o celular e o carregador na mão. Aviso minha mãe que estou em casa e amanhã vou lá, em seguida fico esperando a Marina que demora um pouco.

Quando ela finalmente passa pela porta, ela fica de costas pra mim e tranca a mesma.

-por que não me contou?-ela pergunta ainda sem me olhar e com sua voz cheia de angústia
-contou o que?-me sento na cama e fico olhando ela que toma coragem e se vira
-que tá com problema de coração e precisa tomar remédio-diz dessa vez raivosa e cruza os braços na altura do peito








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Demorei muito? 🌚
Sim, eu aprendi a fingir demência 😂😂😂
Eu ia vim o mês passado, mas acabei vindo nesse mês mesmo, porque eu estou muito esquecida e distraída 🙊
Só não me matem 🙏