quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Capítulo 357 - Só um susto

Marina

-é claro que eu me importo comigo mesmo, mas eu me importo mais com vocês-ele dá de ombros
-ok, então eu me importo mais contigo e você a partir de hoje vai tomar esses remédios que ele passou tudo certinho-o sinal abre e eu coloco o carro pra andar novamente
-não quero-ele argumenta
-não tô perguntando se quer, eu estou afirmando que você vai tomar
-e se eu não fizer?-me encara
-eu volto pro meu apartamento com as crianças-o encaro de volta e seus olhos ficam esbugalhados-não vou ficar pra te ver morrer aos poucos, não vou mesmo, você que escolhe Luan
-para de graça-ele ri tentando descontrair o clima e perceber que era tudo uma piada, mas não é
-não é graça-me irrito-você não entende a gravidade da situação? É um problema no coração, os remédios servem pra te deixar bem, sem eles você fica mal, e se você escolher ficar sem os remédios, ficar sem se cuidar, eu vou embora. Eu tô com você pra ter uma vida longa, mas parece que você tá cagando pra isso
-eu não tô cagando pra isso Marina-diz ofendido
-é o que parece
-não fala bobagem, todo esse show por causa de alguns remédios, eu em-cruza os braços

Então é isso que ele acha que minha preocupação é? Um show? Pois que se dane.

Pego meu celular, abro o WhatsApp e entro no grupo da nossa família. Mudo o celular de mão e começo a gravar um áudio.

"Bom dia família linda, que o dia de vocês seja mais incrível do que vai ser o meu-Luan me olha-vim contar uma coisa delicada, mas não vou ser delicada pra falar. Luan está com um problema no coração e não está tomando as porras dos remédios que foram receitados a ele-Luan me olha transtornado, não sabe se aquilo é sério ou não-eu estou preocupada, mas ele acha que a minha preocupação, é show, portanto já deixo avisado, que se eu sair de casa é por isso. Não estarei o deixando, por causa da doença, mas por não querer ver meu marido morrer na minha frente e na frente dos nossos filhos, por puro capricho e desleixo de tomar os remédios. É isso, se alguém puder colocar juízo na cabeça dele, eu agradeço, já que tudo o que eu estou falando desde ontem, parece ter sido em vão."-encerro o áudio e envio, assim que vejo que foi, desligo meu celular e coloco em baixo da bunda

-você não mandou o áudio de verdade né?-ele pergunta
-você num disse que minha preocupação é um show? Pois então, acabei de dá um pra nossa família toda-viro a esquina
-não foi o que eu disse
-foi exatamente o que disse-chego na clínica

Ele pega o celular dele e abre o grupo, na mesma hora ele vê que realmente mandei o áudio.

-porra Marina, que desnecessário-ele dá um tapa no porta luvas assim que estaciono na garagem da clínica
-eu e nossos filhos não vamos ficar pra te ver morrer, mas talvez seus pais e sua irmã fiquem-tiro o cinto, pego minha bolsa e o celular, e desço do carro

Respiro fundo pra não manda-lo ir a merda e fico o esperando descer do carro, coisa que demora um pouco.

-ei-Luan se aproxima de mim assim que desce do carro, tento fugir, mas ele cola seu corpo no meu e eu fico entre ele e o carro-me desculpa, eu não quis dizer que sua preocupação era só um show
-foi o que disse-sinto minha voz falhar
-desculpa-ele faz um carinho em meu rosto
-você por acaso se lembra que eu quase perdi meu pai pro infarto? Ele ignorou um problema no coração, escondeu as dores que tava sentindo, até quase morrer, se lembra disso?-pergunto com a voz falha-eu não quero, nem posso perder você-minhas lágrimas saem sem permissão-por favor, não ignora isso
-você não vai me perder, é só um probleminha
-que pode virar um problemão-tento colocar juízo em sua cabeça-como é que você pode não ver isso? Você tá brincando com a sorte
-eu sou novo ainda, tenho saúde
-e daí? Isso não te impede de ser vítima
-amor..-o interrompo
-vamos entrar
-espera, por favor-implora
-vamos, depois a gente conversa
-tudo bem-ele aceita o fim da conversa por enquanto

Luan tenta pegar na minha mão, mas cruzo os braços e sigo afastada dele.

Entramos e a recepcionista do consultório sorri pro meu marido, toda vez é assim, ele sempre é simpático e hoje não seria diferente. Olho de cara feia pra mulher que nem se importa.

-viemos ver o Dimas-chamo a atenção dela e ela finalmente me olha
-ele já tá esperando vocês-ela sorri pra mim

Ela sai de trás do balcão e se aproxima, faz de tudo e esbarra no Luan. Assim que ela passa pela gente eu a sigo na frente e o Luan atrás de mim.

Ao entrar no consultório, ela anuncia nossa presente e nos dá espaço. Dimas já nos espera em pé, ele me cumprimenta e em seguida o Luan.

-pode sair-ele fala com a funcionária que toda sem graça sai do consultório-eu juro que se não fosse errado, eu iria puxar a sua orelha agora mesmo-ele diz bravo com o Luan-você simplesmente sumiu, não deu mais notícias, não atendeu meus telefonemas, não respondeu minhas mensagens, quase liguei pra Marina ou pro seu pai, só não fiz, porque prometi a você que não faria
-deveria ter ligado doutor, eu só soube de tudo ontem-falo mostrando a minha chateação
-sério?-ele pergunta surpreso olhando de mim pro Luan
-não queria preocupa-la, por isso não contei e se estou aqui agora é porque ela me fez entrar no carro e só depois me contou pra onde iríamos-Luan dá de ombros
-tem nem vergonha de admitir isso né?-Dimas parece um pai preocupado
-nós viemos aqui, porque eu quero saber tudo-deixo claro o motivo da visita-quero saber o que ele tem, os riscos disso, os tratamentos
-vou te explicar tudo e você Luan, vai ter que refazer os exames, preciso saber se o remédio está fazendo efeito
-ele não tá tomando os remédios, só quando sente dor no peito-deduro ele que me olha bravo, mas não tô nem ai
-isso é sério?-ele pergunta pro Luan que confirma com a cabeça-eu estou tentando te ajudar a ficar bem, a ter tempo com a sua família, mas parece que você quer o contrário, tá tentando se matar?-Dimas pergunta calmo, mas o seu rosto vermelho denúncia o quanto ele está bravo

Luan cruza os braços, coloca uma perna em cima da outra e fica em Silêncio sem olhar pra ninguém.

-eu tô falando você-Dimas aumenta a voz e o Luan olha pra ele
-eu sou novo ainda, vou fazer 34 anos o mês que vem, sou saudável, não preciso de remédio, meu remédio é o amor da minha família-ele continua irredutível
-é sério mesmo?-dessa vez ele pergunta pra mim e eu confirmo tristonha-eu sinto muito-ele diz carinhoso como sempre foi
-sente muito por quê? Eu tô vivo-Luan de intromete e o Dimas o ignora
-o que ele tem se chama Doença Arterial Coronariana, ela é caracterizada pela obstrução dos vasos sanguíneos que irrigam o coração, devido ao acúmulo de placas de gordura no interior desses vasos, o que acaba dificultando o trabalho do sangue para passar até ao músculo cardíaco. Além disso, quando uma dessas placas se rompe, ocorre diversas de ações inflamatórias que acabam resultando numa obstrução do vaso, fazendo com que o sangue deixe de passar completamente até ao coração e provocando morte dos tecidos cardíacos-ele diz e eu fecho os olhos
-o que pode acontecer caso isso aconteça?
-complicações gravíssimas como angina de peito, infarto, arritmia ou, até mesmo, morte súbita-ele diz com cuidado, mas mesmo assim me dói e sinto minhas lágrimas caírem
-amor-Luan tenta se aproximar e eu afasto a poltrona dele
-não encosta em mim, isso tudo é culpa sua-acuso
-tudo bem, eu faço isso por você
-por mim?-pergunto irônica-não é por mim que tem que fazer, pois sei que se for pra fazer só por mim, você vai ser disciplinado e tomar os remédios somente quando estiver em casa, eu quero que faça por você, pelo seu bem e por todo mundo que te ama-solto um suspiro profundo-Você acabou de escutar o que ele disse Luan, infarto, morte súbita e mesmo assim não muda de ideia? Quando vai mudar?
-tudo o que passei é muito simples, é pra fazer exercícios regularmente, comer comidas saudáveis, não fumar, nem beber, alguns remédio para controlar o colesterol dele que está sem elevado e remédios pra ajudar na circulação do sangue, simples, qual a dificuldade nisso?-Dimas pergunta olhando pro Luan
-nenhuma-ele bufa, parece perceber que não é nada complicado pra esse show que ele está fazendo
-pois então Luan, pra que essa resistência em se cuidar?-pergunta, mas meu marido fica calado-vai pelo menos refazer os exames pra eu saber como está?-pergunta preocupado
-sim-Luan confirma com a voz baixa
-então vamos fazer agora-ele sugere
-agora? Não precisa, marca um dia e eu venho depois-dá de ombros sem se importar
-agora-encaro o Luan, que solta um suspiro
-tudo bem-diz mesmo contrariado

Converso mais um pouco com o Dimas que me explica exatamente tudo o que preciso saber, passa uma nova receita pro Luan e se levanta pra nós acompanhar.

Andamos por toda aquela clínica gigante, descemos por um elevador pequeno e logo estávamos em um andar diferente, um andar cheio de salas com aparelhos de fazer exames de diversas formas. Somos recebidos pela a equipe do Dimas que foram muito simpáticos com a gente.

-fiquem a vontade, eles são de minha confiança, preciso voltar pra minha sala, pois tenho outra consulta agora, mas vejo vocês em breve, quando forem embora passem lá na recepção e marquem um dia para o retorno, vamos conversar sobre os exames ok?-ele como sempre maravilhoso
-obrigada por me atender e tentar me ajudar a colocar juízo na cabeça do meu marido-lhe dou um abraço rápido
-só quero vê-lo bem-ele aperta a mão do Luan e sai

Meu marido faz primeiramente exame de sangue, em seguida é submetido a uma tomografia computadorizada do coração e por último um eletrocardiograma pra não ter erro.

Fico sentada do lado de fora ansiosa pra ligar o meu celular e ver o que tá rolando no grupo da família.

Observo o celular do Luan em cima da cadeira ao lado e o pego na mão. Ligo a internet do celular e as mensagens começam a chegar sem parar. Só no grupo da nossa família chegam mais de 100 mensagens.

Espero tudo chegar e abro o grupo da família. A primeira a responder é a minha irmã que manda umas carinhas de assustada e em seguida come o toco do Luan.

Logo em seguida vem um áudio desesperador da minha sogra. Ela chora enquanto fala, quer dizer, enquanto implora para que o Luan se cuide.

Penso em ver mais coisas, porém escuto a voz do meu marido se despedindo. Droga, demorei demais pra pegar o celular dele. Ao escutar passos, bloqueio o celular e deixo na cadeira ao lado novamente.

-vamos?-ele pega as coisas dele
-já fez tudo?-finjo estar surpresa
-sim-concorda esticando a mão pra mim
-ótimo-ignoro sua mão e saío na frente
-turrona-diz baixo, mas eu escuto

Assim que entramos no pequeno elevador, ele fica de frente pra mim. Se aproxima e eu simplesmente não me importo, estou com tanta raiva por causa da sua falta de cuidados, que não sinto nada.

-eu tô bem oh-aponta pra ele
-por fora você tá ótimo, só não tá bem aqui-toco seu peito, do lado do coração-e se o seu não tá bom, o meu também não fica

O elevador abre e eu o empurro levemente pra sair daquele espaço, assim ele faz. Sigo ao seu lado e paramos na recepção.

-que dia podem retornar?
-quinta que vem-Luan diz adiando a volta
-por quê?
-esse final de semana começa meus shows de carnaval e eu preciso começar a me preparar desde hoje e eu tenho show até terça, na quarta quero descansar da correria-ele me convence
-tudo bem, quinta-feira que vem de manhã
-sacanagem-Luan reclama
-quer vim quando a Laura estiver em casa? Eu posso muito bem falar pra ela que vou trazer você no médico-cruzo os braços e ele faz mesmo
-melhor ela não saber-ele diz pensativo-quinta de manhã-fala com a moça que se arreganha pra ele
-para de dar em cima dele, ele é casado-falo com ela que rapidamente se contem
-marcado, quinta às oito da manhã
-obrigada-largo o Luan ali e sigo pra fora do consultório

Ando até o nosso carro, entro e fico esperando ele, que só dois minutos depois aparece com um sorriso no rosto.

Assim que ele entra no carro, ligo o mesmo e saío dali sem trocar nenhuma palavra com ele.

No meio do caminho, passo em uma farmácia e desço do carro levando a receita que o Dimas passou, a carteira do Luan e a chave do carro.

Compro tudo o que é preciso, pego umas balinhas sem açúcar que a Laura gosta e volto pro carro. Luan agora está sentado no banco do motorista e continua com aquele sorriso idiota.

-com licença-peço com a porta aberta
-me deixa dirigir-pede fazendo cara de cachorro sem dono
-não, vai pro banco de lá por favor
-não, eu quero dirigir
-então dirige-pego a minha bolsa, meu celular e jogo a chave nele
-onde vai?
-pedir um Uber ou pegar um táxi-viro as costas, mas ele segura meu braço
-vem vai, dirige-me dá a chave-desculpa, eu só queria que falasse comigo, não gosto dessa nossa falta de comunicação
-aqui estão os seus remédios, assim que chegarmos você vai começar a tomar
-tá bom-pega a sacola-só não vamos ficar assim
-se você tomar jeito-dou de ombros
-tá-me rouba um selinho e dá a volta no carro

Sento no banco do motorista e depois de estacionar na nossa garagem, desço levando as minhas coisas.

Sou a primeira a entrar e encontro a nossa família toda reunida, só falta a Lari que virá morar em São Paulo o mês que vem.

-cadê meu filho?-Marizete pergunta desesperada
-tá vindo, tenta colocar juízo na cabeça dele, eu tentei, mas não consegui-falo chateada e dou um beijo em sua bochecha-cadê meus filhos?
-Mariana está no parquinho com a Malu e os gêmeos, acordaram pra mamar e agora estão dormindo-Bruna que é a mais calma, me responde
-vou subir pra olha-los-mando beijo pra todo mundo e subo as escadas

Ao chegar no quarto dos gêmeos sinto o meu coração apertado. Me sento na poltrona e fico os observando por um tempo. Eles são tão pequenos, não consigo nem me imaginar criando eles sozinha. Isso não pode ser uma possibilidade, não pode!

Depois de alguns minutos com os meus pequenos, desço e escuto os sermões que meu pai está dando no Luan, ao invés de ficar ali, saio atrás da Mariana e a encontro correndo da Malu, toda desengonçada.

-vem filha-chamo e ela corre até mim, morrendo de rir-aprendeu a andar esses dias e agora já tá correndo sua sapeca-faço cócegas nela e beijo seu pescoço
-mama-ela diz tentando desviar dos meus carinhos e eu rio ainda mais
-o que aconteceu?-Malu se aproxima e aponta pra dentro de casa
-Luan está com problema de coração e não quer se cuidar-reviro os olhos
-ele é doido? Esqueceu do que seu pai passou? Esqueceu do que eu passei?
-pelo jeito sim-sorrio triste-ele descobriu esses problemas quando eu estava grávida da Mariana e a pequena já fez um ano, o que significa que ele está me escondendo isso a muito tempo, não sei nem o que pensar
-esse Luan, tomara que estejam enchendo ele de sermão
-tomara, porque eu já tentei, mas não sei se funcionou
-vai da certo, você vai ver-ela se aproxima mais e me abraça do jeito que dá

Fico mais alguns minutos ali, até escutar o Luan me chamar, respondo e ele aparece.

-vou subir pra dormir um pouco-ele pega a Mariana e brinca um pouco com ela
-vai tomar o remédio?-pergunto
-vou-diz como se aquilo não tivesse importância
-eu falei sério sobre tudo
-aham-dá um sorriso debochado e eu não digo mais nada

Ele brinca mais um pouco com a pequena, me entrega ela e sai. Solto um soluço preso e a Malu volta a me abraçar.

-vai dá certo, ele vai tomar
-quando eu subir e ele estiver dormindo, eu vou olhar os remédios, se ele não tiver tomado, vou pegar algumas coisas minha, umas coisas das crianças e vou dar um susto nele pra ver se ele se toca
-eu gostei da ideia-Malu ri diabolicamente e eu acabo rindo, contagiando minha filha

Me levanto com a pequena e a Malu me segue. Ao chegar na sala minha sogra se aproxima de mim.

-há quanto tempo sabe?-pergunta curiosa e parece pronta pra me atacar
-há algumas horas-conto e ela suspira aliviada-o Rober me contou ontem a noite!-afirmo-aquela hora que o Amarildo ligou pro Luan pra contar do sequestro e ele ficou em silêncio, foi porque sentiu uma dor no peito, dor essa que ele sente há algum tempo. O Rober percebeu que ele não tá tomando os remédios, ficou preocupado e resolveu me contar de uma vez
-ele disse que vai se cuidar-Mari me conta
-eu sei que ele foi dormir, vou esperar um pouco pra ter certeza que ele está no sono pesado e vou olhar os remédios que comprei, se ele não tiver tomado, vou sair daqui com nossos filhos-conto
-vai se separar?-meu pai pergunta preocupado
-não, só quero dar um susto nele, ver se ele se toca que se ele não se cuidar vai nos perder
-eu gosto da ideia-minha sogra me apoia-vou esperar, se ele não tiver tomado os remédios eu te ajudo a levar as crianças
-obrigada-sorrio mesmo sem muita vontade

Me sento ao lado da Bruna que me abraça de lado e faz com que eu deite a cabeça em seu ombro.

-cadê o Bernardo?-pergunto sobre o meu afilhado
-ficou com o Breno, eu precisava vim e o pequeno estava dormindo
-entendi, obrigada por estar aqui
-ele é cabeça dura, mas juntos somos mais fortes-ela alisa meu cabelo e o da Mariana que se joga pra ir pro colo dela

Marizete, minha mãe e a Malu sairam em direção a cozinha, meu pai e o Amarildo seguiram pro bar e nós duas ficamos sozinhas.

Não falamos nada, apenas recebo seu carinho e ela brinca com a minha pequena.

Quase uma hora depois, olho a tela do meu celular e percebo que está quase na hora da Laura chegar. Me levanto e subo as escadas contando os degraus. Ao entrar no quarto encontro o Luan deitado de barriga pra baixo só de camiseta e cueca. Sua boca aberta fala alguma coisa que não sou capaz de entender, sei que ele está em um sono pesado, pois ele só fala dormindo quando o sono é profundo.

Na poltrona do quarto vejo a sacola da farmácia, sigo até lá e abro a mesma. Um dos saquinhos de bala que comprei pra Laura está vazio, sinal que ele mexeu na sacola. Pego os remédios na mão e solto um suspiro pesado.

-por que você é tão cabeça dura?-falo com ele mesmo sabendo que ele não está escutando

Coloco as cartelas de remédios intactas de volta na sacola e ando até o meu closet. Arrumo uma mochila com roupas e dois sapatos, o resto eu peço ao Mario pra comprar.

Saio do closet carregando a bolsa e paro ao lado da cama, pego um pedaço de papel e uma caneta no meu criado mudo. Escrevo um bilhete mostrando toda a minha decepção e deixo embaixo do celular dele.

Saio do quarto carregando minhas coisas  e entro no quarto dos gêmeos. Arrumo uma bolsa grande pra cada e deixo na porta. Faço o mesmo no quarto da Mariana e quando chego no quarto da Laura separo roupas, sapatos e todo o seu material escolar.

Desço toda torta carregando todas as bolsas e ao chegar no fim da escada Bruna me olha e dá um sorriso triste.

-ele não tomou né?!-ela mais afirma do que pergunta
-não-coloco as bolsas no chão-ele mexeu na sacola da farmácia, comeu das balas que comprei pra Laura, mas não tomou os remédios
-Luan é um idiota-ela diz raivosa e em seguida faz careta olhando pro colo, me aproximo e encontro a Mariana quase dormindo
-se ele não mudar de ideia agora, ele não vai mudar nunca e eu não vou ficar aqui pra ver ele morrer sem se cuidar
-ele vai abrir os olhos, tenho certeza-Bruna afirma com convicção
-ele não tomou né?-minha sogra pergunta aparecendo na sala e vendo as nossas bolsas
-não-sorrio sem vontade
-já arrumou tudo?-respira fundo
-só vou pegar as mamadeiras e esperar a Laura chegar, ela vai ficar sem entender nada
-diz que o Luan saiu-meu sogro chega e sugere
-vocês almoçam em casa-Marizete diz tentando parecer animada
-ok, avisou a Tânia?
-sim, pedi pra ela fazer uma comida leve pro Luan pra quando ele acordar
-ok, obrigada

Deixo eles ali e sigo até a cozinha, Tânia ao ver minha cara de decepção me dá um abraço silencioso, ela não diz nada, apenas me aperta.

Assim que ela se afasta, beijo sua bochecha e pego todas as mamadeiras ali. Coloco junto na bolsa, leite em pó e o meu aparelho de tirar leite.

Assim que fecho a bolsa escuto um barulho de carro na garagem, demora poucos minutos até eu escutar a voz da Laura.

-cuida dele e se ele sentir algo, promete que me liga mesmo se ele disser que não?-converso com a Tânia e ela me olha sorrindo
-ele provavelmente me fará prometer que não vou dizer nada, mas como tô te prometendo primeiro, então é o que vale-ela sorri-prometo que ligo
-obrigada-volto a abraçar ela

Volto pra sala e já não encontro mais as bolsas ali perto da escada. Minha sogra me dá sinal e eu observo minha filha mais velha no colo do meu pai.

-vamos?-meu sogro me chama e só ai percebo que meus gêmeos já estão ali, Matheus no colo dele e a Manu no colo da Malu
-vamos-finjo comemorar

Ajeito meus filhos no carro grande que compramos pra caber a família toda, Bruna vai comigo, Dai irá nos seguir, meus pais no carro deles e meus sogros no carro deles.

Ligo o som bem baixo e vou o caminho todo escutando a Laura contar como foi o dia de hoje no colégio.

Ao parar na frente da casa da minha sogra, todo mundo para ao lado do carro pra me ajudar, isso me faz sorrir de verdade, saber que não estou sozinha é bom, aliás, é muito bom.

Almoçamos em um ótimo clima e depois de estarmos todos cheios, seguimos pro apartamento do Luan, é lá que ficarei. É grande, perto de todo mundo e não sai da rota da Daiane.

Assim que estaciono em uma das vagas do Luan percebo que o porteiro não está ali, é até melhor assim, ele não saberá que estou aqui e se o Luan vier perguntar ele dirá que não, bom, é o que eu espero.

Meu pai e meu sogro que vieram me ajudar, pegam algumas bolsas e cada um pega um dos gêmeos no bebê conforto.

Laura desce sem ajuda de ninguém e me ajuda a levar a bolsa com seus materiais escolares.

Bruna continua com a Mariana no colo e a Daiane me ajuda com o restante das bolsas.

Subimos todos juntos, deixamos tudo ali pela sala e a Laura sobe correndo pra escolher o quarto pra ela.

Meu pai se despede prometendo voltar mais tarde ou amanhã cedo, meu sogro da mesma forma e a Bruna também, ela tem o filho dela, os problemas dela, não pode simplesmente esquecer tudo por minha causa.

Depois de ficarmos só eu e a Dai, ela me ajuda a subir os gêmeos. Matheus que se mexe muito, coloco no berço que foi da Laura e ficou aqui. A Manuela eu deito na cama do meu quarto e coloco alguns travesseiros em volta dela e a Mariana eu deixo no moisés que tem na sala. Acabo rindo ao me lembrar das brigas que eu e o Luan tínhamos por causa do berço.

-Dai-chamo a atenção dela que ajuda a Laura na lição de casa
-oi-me encara
-se ele te ligar, não atende tá-peço e ela concorda sorrindo
-não vou atender, prometo
-obrigada, por tudo, por estar se virando em três pra me ajudar com as crianças
-estou sendo bem recompensada por isso-ela faz graça e consegue me fazer rir-brincadeira, você sabe o quanto me apeguei a todos eles, ficar um dia sem vim é tão triste, parece faltar algo-ela faz bico
-quero ver quando tiver os seus
-vai demorar um pouco, só quero ter quando eu tiver uns 35 anos, por ai, queremos aproveitar muito a vida a dois-ela explica
-aproveita mesmo-aconselho e ela sorri toda linda

Passaram-se algumas horas, meus filhos já estavam todos acordados e dando trabalho quando escuto meu celular tomar. Sei que é o Luan, o toque é diferente.

Pego o aparelho na mão e confirmo o que eu já sabia, ignoro a chamada, coloco meu celular no silencioso e fico prestando atenção em Moana, o filme que a Laura escolheu pra gente assistir.

Meu celular volta a acender algumas vezes e eu ignoro o mesmo, tento me concentrar no filme, mas já não consigo mais. Pego o aparelho na mão e na tela aparece uma nova mensagem de texto do Luan, sem resistir abro a mensagem que mesmo que eu dissesse que não, é visível que ela partiu meu coração.

"Meu coração já tá uma merda, não termina de destruir ele assim 💔"






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Oiiiii
Dessa vez eu demorei, mas pelo menos vim com um capítulo decente de tamanho né?! Digam que sim 🙏
😚❤️

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