quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Capítulo 358 - Tomando jeito

Luan

Acordo depois de horas de sono, me arrasto até o banheiro e tomo um banho pra tirar o cansaço. Se eu bem conheço a Laura, ela vai querer brincar o resto da tarde toda, inclusive é um milagre ela não ter vindo me acordar, ela sempre faz isso, provavelmente a Marina pediu pra que ela deixasse eu descansar.

Saio do banheiro e sigo pro closet, visto uma roupa fresquinha e volto pro quarto. Olho a sacola da farmácia, abro a mesma e olho aqueles remédios prontos para serem ingeridos. Volto a jogar a sacola no sofá e me aproximo do criado mudo pra pegar o meu celular, vejo que embaixo dele tem um bilhete e pela letra, sei que é da Marina. Pego ele na mão e começo a ler o bilhete que me deixa aterrorizado.

"Eu tentei de todas as maneiras fazer você mudar de ideia e quando você disse 'ta bom' lá na farmácia, eu achei que aquilo era uma confirmação que você iria se cuidar, mas você não fez o que disse, não tomou os remédios, você os ignorou quando abriu a sacola para pegar as balas que comprei pra Laura e como eu já havia dito, eu não vou ficar pra te ver morrer sem cuidados. Eu odeio ter que te deixar, mas você não me deu outra opção.
Marina"

-ela foi embora?-falo sozinho ainda olhando o bilhete-isso não é sério, não pode ser sério-sinto o chão ao meus pés desabarem

Me levanto e ando até o closet, olho as coisas dela ali e realmente está faltando umas roupas que ela gosta de usar sempre.

-Marina, você não tá fazendo isso comigo, não tá-sinto um aperto no coração, mas não são as dores que costumo sentir, é como se aquela dor não fosse nada perto do que tô sentindo

Saio do quarto com o meu celular na mão e colocando seu número pra chamar. Chama, chama, chama e cai na caixa postal. Entro no quarto dos gêmeos e sinto falta de alguns brinquedos, roupas. Ando até o quarto da Mariana e também tem coisas faltando, continuo a andar até chegar no quarto da Laura e não encontrar seus arquinhos de pérolas, seus uniformes e materiais didáticos.

Desço as escadas e sigo até a cozinha que tem barulho de panela. Encontro a Tânia lavando louça.

-pra onde elas foram?-pergunto e ela me olha assustada
-nem vi você chegar-dá um sorriso sem jeito
-não muda de assunto
-eu não sei-ela responde ainda mais sem graça
-sabe sim-afirmo com a voz um pouco alterada
-eu não sei, juro, ela só disse que tava indo embora e que era pra eu cuidar de você
-ela não falou sério né? Ela só foi pra me dá um susto né? Foi isso?-dou um sorriso nervoso com a situação
-acho que ela foi de verdade
-não escutou nada? Uma pista?
-não, ela ficou na sala conversando com os pais de vocês e depois quando ela voltou pra cozinha foi pra avisar que tava indo, ela não parecia estar brincando, na verdade ela estava triste, muito triste, com os olhos vermelhos e parecia chorar
-Tânia-choramingo seu nome e sinto minha voz falhar-meu Deus, o que eu fiz?-deito a cabeça no balcão da cozinha

Escuto os passos dela e em seguida sua mão em meu cabelo. Viro a cabeça de lado e encaro ela preocupado.

-o que eu faço Tânia?
-vai atrás da sua família e vê se toma jeito, você está doente, mas pode se cuidar e ficar com as meninas e com o Matheus, basta querer-ela aconselha-sabe essa sensação de perder a Marina? Essa dor no coração por saber que não tem ela aqui?-concordo com a cabeça-ela vai sentir essa dor mil vezes pior se você não se cuidar e acontecer algo, vale a pena deixar ela assim por capricho?
-não-sinto lágrimas molharem o meu rosto
-então começa tomando os seus remédios, se cuidando de verdade, comendo mais saudável, fazendo exercícios físicos, se mostrar pra ela que se importa contigo, tenho certeza que ela volta-sua mão limpa as minhas lágrimas
-não sabe mesmo onde ela tá?-pergunto na esperança de receber uma resposta diferente da anterior
-eu realmente não sei, juro pra você, ela não disse nada pra mim, só pediu pra eu cuidar de você e qualquer coisa ligar pra ela, aliás, você já ligou?
-sim, mas vou ligar de novo-me levanto e beijo a testa dela

Volto a ligar pra Marina que não me atende de jeito nenhum. Ligo pros seus pais, minha sogra atende, mas diz não saber dela. Ligo pro Mario e nada, pra Hellen também nem sinal, ligo pra Luiza, mas também não sabe. Recorro aos meus pais que dizem não saber também.

Subo as escadas de volta pro quarto, pego a sacola de remédios e sigo pro banheiro, tomo os remédios logo de uma vez e desço tentando novamente falar com a Marina.

Pego a chave do meu carro e dou um grito da sala pra avisar a Tânia que estou saindo.

-VOU SAIR

Nem espero sua resposta e sigo pra garagem. Entro no carro e conecto o celular no carro. Continuo tentando contato com a Marina que continua a me ignorar.

Sigo em direção a casa dos meus pais e só depois de conferir que eles não estavam ali que fui embora. Passei também na Bruna, no Testa, na Hellen, no Mario, no antigo apartamento dela onde meus sogros moram e depois de não encontrá-los sigo pra minha última esperança, nosso antigo apartamento.

Ao chegar lá vejo que nas minhas vagas não tem nenhum carro, aquilo faz as minhas esperanças irem ralo a baixo. Estaciono em uma das minhas vagas, desço do carro e ando até a cabine do porteiro do prédio. Ele ao me vê sorri animado.

-oi, tudo bem?-pergunto
-claro, quanto tempo não aparece aqui-ele sorri animado
-é eu sei, mas vim só perguntar uma coisa
-claro, fica a vontade
-minha mulher está aqui?-pergunto de uma vez
-sua mulher?-pergunta sério e eu assinto-não, ela não está
-tem certeza? Se ela te pagou pra não dar informação, me diz, eu te pago mais
-não-ele ri sem jeito-ela não me pagou nada, ela realmente não esteve aqui, eu passei o dia sentado nessa cadeira, só sai por dois minutos pra ir ao banheiro, eu provavelmente saberia se ela tivesse vindo
-droga-solto baixinho
-está tudo bem com ela?-pergunta preocupado
-ela não tá em casa e não avisou pra onde iria, estou preocupado, ela nunca sai sem avisar
-olha ela realmente não esteve, mas se quiser deixar um telefone pra contato eu te aviso caso veja ela chegando ou pelas câmeras-ele deu ideia
-isso seria ótimo, tem um papel?-peço

O cara procura um pedaço de papel limpo e uma caneta, ele me entrega e eu escrevo meu número e meu nome.

-por favor, se ver ela, não importa a hora, me liga, eu tô muito preocupado
-ok, qualquer coisa que eu ver, em qualquer momento eu te ligo
-obrigada mesmo-estico a mão pra ele, que segura e apertamos

Respiro fundo e sigo de volta pro meu carro. Tento novamente falar com ela e ligo várias vezes, mas ela não me atende. Digito uma mensagem e envio, talvez ela veja, talvez ela se sensibilize.

"Meu coração já tá uma merda, não termina de destruir ele assim 💔"

Deixo o coração de lado e saio do prédio, volto pra nossa casa e sinto ela tão vazia, sem ninguém, não se parece com um lar, parece apenas uma casa, sem nada.

Tânia continua ali e depois de tanto insistir ela me faz comer um pouco. Depois de ver que não quero papo, ela para de insistir pra eu comer mais e vai terminar de organizar a cozinha.

Deixo ela ali e subo as escadas, me jogo na cama me sentindo sem rumo e tento novamente falar com a Marina, ela não atende! Tento mais duas vezes e na terceira percebo que ela atendeu.

Ligação on 📲
-meu Deus do céu, graças a Deus Marina, onde vocês estão?-pergunto apressado
-oi papai-a voz da Laura me faz querer chorar
-oi meu amor, tudo bem?-pergunto
-eu tô bem papai e você tá bem?-pergunta toda esperta-onde você tá?
-tô em casa e você?
-eu não sei, só sei que é uma casa linda-ela diz animada
-cadê a mamãe?
-a mamãe tá aqui, mas ela não quer falar, ela só disse pra eu falar que tamo bem, todo mundo-ela dá o recado
-fala pra ela que eu a amo, que eu amo vocês todos
-nós também pai, a gente só quer seu bem-ela me faz ter uma crise silenciosa de choro-se cuida pai, nós não quer ficar sem você-escuto alguém dizendo atrás e ela repetindo-por favor, se cuida papai, a gente precisa de você
-eu tô me cuidando, eu vou me cuidar, prometo, mas voltem pra casa-tento não mostrar que estou chorando, minha filha não merece
-primeiro se cuida, mas amanhã você busca eu na escola e vai pra casa da vovó Izete, a Mari e a Manu e o Matheus vai tá lá
-e a mamãe?
-a mamãe não sei papai-ela dá uma risadinha que enche o meu coração de amor
-eu amo vocês-me declaro com a voz embargada
-não chora, nós ama você-ela é meiga como sempre-eu vou desligar, mamãe tá fazendo bolinho de chuva-ela diz animada e eu acabo sorrindo
-leva pra mim amanhã
-tá bom, beijo papai, te amo
-eu te amo também, muito, muito, não esquece
-não vou esquecer-ela diz como se fosse óbvio-vou desligar na sua cara, tchau-ela fala e em seguida percebo que a chamada se encerrou
Ligação off 📲

Deixo o celular de lado e choro, sem medo, sem vergonha, apenas choro.

Quando meu choro cessa, pego meu celular e falo com o Rober, peço pra ele providenciar o maior número de aparelhos de academia pra mim e peço também para que ele organize minha agenda com idas a academia e avise o personal que contratei, mas que eu não estava usando.

Ele responde animado dizendo que gostou da minha decisão em me cuidar. Marquei as horas certinhas de tomar o remédio e coloquei despertadores pra isso.

Já na hora da janta, meu celular desperta, pego os remédios e desço as escadas sem ânimo algum. Tomo as pílulas necessárias e encontro uma marmita de comida saudável dentro do microondas.

Esquento a comida e como devagar. Ao me sentir satisfeito subo as escadas e mando mensagem pra Marina tentando um diálogo que não acontece.

Passo a noite toda me revirando na cama e simplesmente não consigo dormir. Já de manhã quando o sol começa a nascer, minhas pálpebras pesam e eu começo a cochilar, porém o celular ao meu lado toca e não é o despertador.

Olho o número e não reconheço, mas pensando ser a Marina eu simplesmente atendo a chamada.

Ligação on 📲
-alô? Quem fala?-pergunto
-oi seu Luan, é o Carlos porteiro do seu prédio, você pediu pra ligar se eu soubesse de qualquer coisa e eu estou aqui ligando, me desculpa o horário-me sento rapidamente ao escutar seu nome
-oi Carlos, tem alguma novidade?
-sim-ele sorri animado-sua esposa está no prédio sim, eu vi sua filha pelas câmeras, ela estava indo pra escola, resolvi interfonar pra cobertura e sua esposa atendeu
-ela não saiu?-pergunto já me levantando e me vestindo
-ela não, sua filha saiu com uma moça, acho que era a babá
-ok Carlos, muito, muito obrigada, se eu lhe encontrar ai te recompenso por isso, mas agora preciso desligar
-não tem que me recompensar com nada não e boa sorte-ele mesmo encerra a ligação
Ligação off 📲

Termino de me vestir e escovo os dentes, pego os remédios que terei que tomar daqui a duas horas e desço as escadas. Tania já está aqui.

-bom dia-falo com ela que se vira pra me encarar
-bom dia, senta, vou fazer um omelete e torradas com pão integral-ela entra na cozinha
-não precisa, eu vou sair
-Luan, você prometeu se cuidar, lembra?
-ok-me sinto derrotado e me sento na mesa

Espero até ela trazer meu café da manhã e como devagar, assim que termino, me levanto da mesa e me despeço dela, pego a chave do meu carro e ando de pressa até a garagem, espero que quando eu chegar a Marina ainda esteja lá.






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Olá, já estão querendo me matar? Aposto que sim 😂😂😂
Desculpem, eu não vou ficar me justificando, pois são muitos problemas juntos que me fazeram ficar distante daqui, mas já estão começando a serem resolvidos 🙏
Obrigada por quem continua aqui 😘

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