Marina
As mensagens do Rober me preocuparam e muito. Saber que meu marido está com problema e eu nem soube, me deixou com muita raiva e saber que ele não está tomando os remédios receitados, fez meu coração sangrar.
Enrolo o máximo que consigo no quarto dos gêmeos e quando percebo que não tem jeito, que preciso ir até lá e resolver isso, eu saio e ando lentamente pelo corredor.
Quando finalmente passo pela porta do quarto, me viro de costas pra ele e tranco a mesma. Encosto minha cabeça na porta e respiro fundo pra não ser grossa.
-por que não me contou?-pergunto ainda sem o olhar
-contou o que?-tomo coragem e me viro pra ele que está sentado na cama, com cara de dúvida
-que tá com problema de coração e precisa tomar remédio-digo dessa vez sem conter a minha fúria e cruzo os braços na altura do peito
-quê? Que conversa é essa?-ele me parece desesperado
-não se faz de sonso-me aproximo da cama apontando o dedo pra ele
-quem falou isso?-ele pergunta e eu fico quieta, ele parece pensar e em seguida bate na própria testa-Testudo filho da puta
-foi ele mesmo-falo de uma vez-e ele fez, porque ficou preocupado contigo, porque ele disse que te viu quase morrendo de dor
-eu não tava morrendo, a dor é forte, mas depois vai embora, você já presenciou isso, sabe como é
-tá pior-afirmo e ele nega-tá pior-repito minhas hipóteses
-não tá-ele mente na cara dura
-NÃO MENTE PRA MIM-grito irritada com as suas mentiras
-ok-ele suspira-lembra quando você engravidou da Mariana, que meus exames deram alterações?-confirmo que lembro com a cabeça-então, eu fui no médico, ele pediu pra que eu fizesse novos exames, dessa vez mais detalhados, nos resultados deu um problema lá que eu nem sei o nome, não prestei muita atenção. O Dimas passou uns remédios pra eu tomar diariamente, mas eu só tomo quando sinto dor que é quando acho necessário, eu tenho que ficar refazendo os exames, mas também já faz tempo que não faço e é isso. Tá tudo bem, você convive comigo sempre, passamos juntos os últimos quatro, cinco meses inteirinhos, você sabe que eu tô bem
-não tá seu idiota-falo o mais alto que consigo por causa de um bolo que se formou em minha garganta-nesses meses às vezes eu te via paralisado com as mãos apertando as coxas, eu perguntava se estava tudo bem e você dizia que sim, mas agora sei que é mentira, você tomava remédio do nada e dizia que era dor de cabeça ou outra dor e eu sonsa acreditava..-ele me interrompe
-você não é sonsa, eu sou, você não-ele se levanta e tenta se aproximar, mas eu recuo
-sou sonsa sim, por achar que eu sabia tudo e estava cuidando da minha família da maneira adequada, sou sonsa por dividir tudo contigo, sou sonsa por achar que casamento é dividir toda uma vida-sinto o choro aparecer e controlo ele dentro da minha boca
-amor, não é assim, eu sempre divido tudo contigo, foi só isso que eu escondi-ele pega em minhas mãos e me olha assustado ao ver que estou gelada
-só isso?-dou uma risada debochada-você acha que um problema no coração é "só isso"?
-não foi o que eu quis dizer-ele tenta se corrigir
-foi o que pareceu-solto minhas mãos e ele fica me olhando
-me desculpa, eu só não quis preocupar você
-você me faz contar até quando tô fazendo a unha e machuca, por que foi que você pensou que eu não poderia fazer isso por você? Por que achou que eu não tinha que meu preocupar? E se Deus o livre e guarde, acontece algo contigo Luan, imagina minha cara ao saber que eu nunca pude fazer nada por você?
-desculpa-tenta de novo
-isso não é dividir uma vida, esconder uma coisa dessas não é dividir tudo, estou decepcionada com você, jamais pensei que iria mentir tanto pra mim-destranco a porta
-ei, onde vai?-segura meu braço
-dormir no quarto de um dos meus filhos-me aproximo do criado e pego a babá eletrônica e meu celular
-amor, espera, não foi tão grave assim essa mentirinha, eu só não queria te preocupar
-e se eu não contasse a você sobre o sequestro só pra não te preocupar e você descobrisse por alguém, você faria o que? Acharia tudo normal? Nada de grave?
-essa é outra situação, não tem comparação
-é a mesma coisa
-não é, você tava correndo risco de vida Marina, é diferente
-eu estava correndo, no verbo passado, você está, no verbo presente, pensa nisso-abro a porta e ando pelo corredor, mas ele não desiste e vem atrás
-espera, vamô conversar direito-me segura pelo braço-eu acabei de chegar amor, me desculpa vai
-não tenho mais o que falar contigo hoje, por favor, me deixa quieta-me solto
-espera sereia
-respeita o que eu tô pedindo, amanhã conversamos, já passei nervoso demais por hoje-continuo meu caminho e dessa vez ele me deixa ir
Entro no quarto da Mariana, tranco a porta e me sento no chão sentindo meu mundo caindo aos poucos.
Só de pensar que algo pode acontecer com o Luan, meu coração já fica pequeno, eu não sei seguir sem ele e eu tenho muito medo disso, dessa sensação, dessa possibilidade.
Choro! Choro de raiva, de ódio, de medo e preocupação, Luan está tão nem ai pra isso que além de não estar tomando os remédios, ele não faz a mínima ideia do que é que ele tem, mas eu preciso saber, preciso saber o tamanho da gravidade disso tudo, preciso ter certeza que há esperança dele ficar aqui, até que Deus me leve.
Vejo as horas passando e não consigo dormir de jeito nenhum. Meus gêmeos dormem até às cinco da manhã, me levanto ao escutar pela babá eles chorando. Sigo até o quarto deles, vejo que o Matheus está cagado e limpo ele primeiro, já que seu choro é muito mais alto e pode acordar às outras pessoas.
Depois de deixar ele pronto, dou mama e ele logo volta a dormir. Pego a Manuela, troco sua roupa, dou de mama e ela adormece logo.
Deixo eles no berço e sigo pro quarto da Laura, ela dorme tranquilamente e eu suspiro olhando a cena, ela é tão linda.
Aproveito a minha falta de sono, deixo a Laura dormindo e desço as escadas, faço um café da manhã caprichado e deixo na mesa, já preparo o misto da Laura e deixo na sanduicheira, quando a descer eu só coloco pra esquentar.
Depois de tudo pronto, subo e vou direto pro meu quarto, ao entrar vejo meu marido acordado, olhando o nada e pelo jeito não dormiu também.
-bom dia-ele diz ao me ver
Deixo a babá eletrônica no criado mudo junto com meu celular e nem o olho.
-bom dia-respondo por educação
-podemos conversar já?-pergunta ansioso ao me ver responder seu bom dia
-não-entro no closet
Pego uma roupa pra mim, um tênis confortável e saío daqui, entro direto no banheiro e tranco a porta.
Escovo meus dentes, lavo o rosto e tomo um banho sem lavar o cabelo, me visto ainda no banheiro e saío pronta, só faltando o tênis. Sigo direto pro closet, calço o sapato, troco de bolsa e saio depois de borrifar perfume em mim.
-onde vai?-Luan pergunta me olhando
-levar a Laura na escola-digo como se fosse óbvio
-que? Não, lógico que não, esqueceu o que aconteceu ontem?
-não esqueci, mas não vou deixar de fazer o que eu mais gosto, só por causa desses bandidos de merda
-eu ainda não contratei o segurança pra você Marina
-eu vou mesmo assim-tento encerrar o assunto
-ok, tá puta comigo? Beleza, eu entendo, eu errei em te esconder isso, mas não faz essas coisas
-eu não tô fazendo nada fora do normal Luan
-claro que tá, você foi sequestrada ontem Marina, não faz burrada, eu vou levar a Laura e você fica
-não-falo o óbvio
-sim Marina-ele levanta e segue pro closet
Ignoro seu pedido e sigo até o quarto da Laura, ela permanece dormindo. Me aproximo da cama faço carinho em seu rosto e a acordo com toda delicadeza de sempre. Ela abre os olhinhos e ao me ver me abraça, isso é quase um ritual da manhã.
-bora levantar, ir pra escola
-papai chegou?-pergunta se animando
-sim, chegou, tá se arrumando pra te levar no colégio
-ele vai me levar?
-não, eu que vou-dou de ombros
-deixa o papai me levar mamãe, por favor-ela se senta implorando
-credo, não gosta mais que eu te leve?-faço bico
-gosto, mas tô com saudade do papai-ela também faz bico
-ok, vai se arrumar-me levanto
-vai ficar brava comigo?-faz carinha de choro e eu volto a me agachar na sua frente
-claro que não amor, quando você voltar vamos ter aula de piano, quer?
-quero-ela bate palmas animada
-então vai, levanta pra ir pra escola-ajudo ela a descer da cama
Ela segue direto pro banheiro, separo a roupa dela, arrumo sua mochila e deixo em cima da cama. Laura toma um banho rápido sem molhar o cabelo, se aproxima de mim e eu confiro se ela escovou os dentes direitinho. Logo em seguida ela se arruma sozinha e fica me olhando pra eu arrumar seu cabelo.
-vem-chamo já com a escova na mão
Me sento na cama e ela senta entre as minhas pernas. Arrumo seu cabelo e assim que fica do jeito que ela gosta, beijo sua bochecha e sussurro muitas vezes o quanto a amo e como ela é importante pra mim.
Depois da melação de sempre, ela desce da cama e abre seu porta jóias, escolhe um dos arquinhos de pérolas que ela tem e coloca no cabelo.
-já tá pronta-escuto a voz do Luan na porta e reviro os olhos sem paciência pra ele
-papai-a pequena corre em direção a ele e eu nem me mexo
Eles conversam, ela diz que estava com saudade, ele diz que a ama muito e todo o papo gira em torno disso.
-você vai me levar-Laura conta
-vou-ele afirma com convicção, acho que é pra me convencer
-eu sei papai-ela ri-eu pedi e a mamãe deixou
-ah, ela deixou?-ele diz querendo me insultar
Me levanto e passo por eles sem dizer nada. Desço as escadas e encontro meu pai e meu sogro sentados no sofá.
-o que tão fazendo aqui uma hora dessas?-pergunto chamando a atenção deles
-viemos buscar a Laura pra levar na escola-eles falam a mesma frase e juntinhos, dou risada dos dois
-Luan já chegou, ele vai levar ela-me aproximo e beijo a bochecha deles
-vamos juntos-meu pai diz preocupado
-falem com ele-dou de ombros
Deixo eles ali e sigo pra cozinha, encontro a Tânia e lhe assusto ao dá um beijo em sua bochecha.
-desculpa-peço rindo da cara dela
-ri mesmo viu-revira os olhos pra mim e eu apenas continuo com a minha crise-você que arrumou o café da manhã ou alguém dormiu ai?-esse alguém a quem ela se refere é a Malu
-foi eu ciumenta, ninguém dormiu aqui não
-hum, que bom né?
-bom dia Tânia-Luan entra na cozinha, meu riso para e eu saío daquele espaço
Laura segue pra cozinha pra dá bom dia e logo volta. Esquento seu misto, preparo o leite do jeito que ela gosta e faço o mesmo pra mim.
Luan se senta com a gente e conversa com a Laura que responde enquanto come. Depois de satisfeita, minha filha pede licença e sobe as escadas pra escovar os dentes. Luan fica alguns minutos em silêncio só me olhando, até abrir a boca.
-vai ficar fugindo de mim?
-tô fugindo da vontade de te esganar, só isso, me deixa quieta
-desculpa vai
-você tá mentindo pra mim a mais de um ano Luan, tem noção disso?-lhe encaro
-eu tenho noção, só não queria te preocupar
-estou ainda mais preocupada agora, só de saber que você não está se cuidando e que tudo isso pode ter piorado
-amor-ele segura minha mão que está sobre a mesa
-voltei-Laura reaparece, mas o Luan não desvia o olhar
-vai lá, depois conversamos
-ok-ele suspira e se levanta
Vejo ele ir e nossos pais o seguem. Me sento no sofá e fico ali desolada, pego meu celular e no calor da emoção, ligo pro Dimas, nosso médico e marco uma consulta. Já mando uma mensagem no nosso grupo de meninas pedindo pra alguém vim ficar com meus filhos por algumas horas. Nossas mães são as primeiras a responder que estão vindo. Largo o celular, tiro leite suficiente pros meu filhos ficarem bem alimentados, pego os documentos do Luan e volto a ficar sentada no sofá, só esperando.
Escuto um barulho de carro lá fora e em seguida campainha, abro a porta e me surpreendo ao ver minha mãe e minha sogra juntas.
-nós combinamos de vim juntas-minha mãe explica
Cumprimento as duas e as poucos pra dentro. Elas perguntam o motivo da minha saída, mas minto sem nem ter muita opção.
O barulho do portão da garagem me faz levantar do sofá e pegar minhas coisas.
-tô indo, avisem a Tânia que saímos, qualquer coisa liguem, vocês sabem onde está tudo e na cozinha tem algumas mamadeiras de leite que eu tirei, beijo-jogo beijo pras duas
Ando de pressa até a garagem e encontro eles subindo as escadas de acesso a casa. Passo pelos nossos pais e paro na frente do Luan.
-volta-falo séria e assim ele faz sem perguntar nada
Pego a chave de sua mão e entro do lado do motorista, Luan dá a volta e entra do lado do passageiro.
Saio com o carro da garagem e começo a seguir o nosso caminho. Luan vai em silêncio por um tempo, mas quando paro em um sinal ele resolve perguntar.
-pra onde vamos?
-pro Dimas, se você não se importa contigo, eu me importo, quero saber o que é que você tem
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Olá, tenho certeza que sentiram saudade né? Também senti ❤️
Eu nem prometo mais nada por aqui, mas vou tentar vir com mais frequência viu, não desistam de mim!
Estou trabalhando de manhã e a tarde fico com a minha sobrinha, não é questão de não querer vim aqui postar, é questão de estar sem fempo
Vou tentar adiantar alguns capítulos 😘
Esse Luan parece que não pensa, por isso a Marina briga com ele.
ResponderExcluirContinua linda