Capítulo 232 - Fugindo

Luan

Foram voltas e voltas por toda São Paulo, ninguém conseguia me reconhecer já que o capacete fechado e escuro tampa todo o meu rosto.

Sinto minha barriga roncar alto e me lembro que sai sem almoçar e que provavelmente a Marina comeu tudo a comida só pra me irritar.

Até penso em voltar pra casa e tentar conversar, mas nervoso como estou, não daria nada certo. Mudo o percurso de volta e sigo até a minha antiga casa. A casa dos meus pais.

Estaciono na garagem e no segundo seguinte sinto braços a minha volta. Olho de cima e encontro a Bruna me apertando fortemente.

-isso tudo é saudade?-pergunto rindo e ela se afasta

Sinto seu olhar mudar de preocupada para fúria e do nada ela começa a me estapear.

-ei-seguro seus braços-tá doida?
-nunca mais faz isso-faz bico e volta a me abraçar
-o que foi que eu fiz?-pergunto sem entender
-brigar com a Marina e sair nervoso de moto, moto é perigoso, não é brinquedo-se afasta, ela me deixa surpreso ao ver que ela sabe sobre nossa briga
-ah, então ela te contou é?-pergunto como quem não quer nada e ela revira os olhos pra mim
-claro que contou, ela está preocupada, pediu pra que eu localiza-se você, mas eu ligo, ligo e só cai na caixa de mensagem
-meu celular ficou em casa, descarregado
-o que tá fazendo aqui?
-vim comer, tô com fome
-você é tão ridículo Luan, você não sabe resolver suas picuinhas, sempre tem que fugir das coisas
-eu sei que quando as coisas acontecem eu fico muito nervoso e acabo falando o que não quero. Eu sei que se eu continuasse lá eu iria magoa-la com palavras e eu não quero magoa-la nunca
-você já magoou, ou acha que dizer que o amor dela é egoísta foi algo bom?
-mas ela às vezes é, ela sempre decide tudo, ela não pergunta o que eu acho, o que eu quero, ela simplesmente faz, ela é tão turrona e cabeça dura
-você a conheceu assim, sabe que por esses e outros motivos que ela não queria ceder ao ter um relacionamento contigo-ela me lembra do começo-depois que ela ficou grávida e teve neném, quando foi que ela te pediu pra parar de cantar? Quando foi que ela te chamou de egoísta por ser o único a não ter que se afastar do que gosta? Quando foi?-ela cala a minha boca-olha pelo lado dela Luan, Marina sempre foi independente, sempre fez o que quis, sempre deu a vida pelo estúdio e aos poucos ela teve que deixá-lo de lado pra cuidar de um sonho de vocês que é a Laura, olha o tanto de tempo que ela está afastada de fazer o que gosta? Ela não quer voltar por completo, ela já havia pensado em tudo pra não te chatear, ela quer voltar aos poucos, ir lá umas três horinhas por dia, ir com a Laura porque ela não quer uma babá agora, inclusive ela até ia mandar comprar um Moisés pra deixar lá-acabo rindo do Moisés por me lembrar da Marina-aposto que você nem deixou ela falar, nem quis conversar
-ela já te contou tudo-reviro os olhos
-somos amigas
-e daí?
-ai Luan, você que sabe-dá de ombros-você é pior que o papai-bufa frustrada
-posso comer primeiro? Depois eu penso-dou de ombros
-você que sabe-sai de perto de mim e segue pra entrada da casa

Fico alguns segundos ali olhando a moto que ela me deu e me lembro da promessa que quebrei. Odeio quebrar promessas, principalmente promessas feitas pra ela.

Deixo o capacete ali no guidão e sigo pelo mesmo caminho que a Bruna passou. Ao entrar em casa, minha mãe me vê e vem logo me abraçar.

-oi, tudo bem?-alisa meu rosto quando se afasta-cadê a Mari e a Laurinha? Não vieram?
-não-tento encerrar o assunto, mas ela me olha toda desconfiada-eu tava andando de moto, tô com fome-passo a mão na barriga-até chegar em casa meu estômago já me devorou-dou uma desculpa qualquer
-eles brigaram-Bruna finge tossir e minha mãe me olha surpresa
-isso é verdade?-pergunta pra ter certeza
-sim, brigamos-suspiro-me dá comida e eu vou te contando tudo-dou de ombros e ela sai na frente em direção a cozinha

Como dito, ela me deu comida e eu tive que contar tudo. Minha mãe não gosta muito de se meter nessa parte da minha vida, mas mesmo assim me deu uma bronca por fugir da conversa com a Marina.

Passo a tarde toda grudado no Puff e com isso vieram lembranças do Fred e consequentemente das minhas mulheres.

Passei a tarde com o coração angustiado de saudade, a sensação era pior do que a sensação quando vou viajar.

-vai pra casa-Xumba diz depois de me dar pra levar pra casa, uma travessa de pavê de ouro branco
-vou daqui a pouco-dou de ombros e ela cruza os braços na altura do peito
-Luan não sei se você percebeu, mas já está tudo escuro lá fora-avisa e eu dou um salto do sofá
-sério?-pergunto pra ter certeza e ela confirma com a cabeça-vou indo então, me aproximo pra abraça-lá

Subo e me despeço da Bruna, faço o mesmo com a minha mamusca e quando eu estava saindo, dei de cara com meu pai, falo com ele rapidamente, mas logo me afasto e sigo pra garagem.

O caminho até nosso prédio foi bem mais curto do que a minha saída, já que rodei a cidade toda até decidir ir pra casa dos meus pais. Assim que chego lá, subo até a cobertura e entro em silêncio pra não alarmar ninguém, porém parece que estou sozinho.

Olho a cozinha de longe e não vejo ninguém.

Subo as escadas e procuro por todos os comados ali, não encontro ninguém. Desço e procuro nos cômodos ali embaixo, também não encontro. Nada no andar de cima, nada no andar de baixo.

Começo a me lembrar da sua última frase.

"então vai, mas não adianta reclamar se chegar aqui e não nos encontrar."

Marina foi embora? É isso mesmo?

Entro na cozinha pra beber uma água, abro a geladeira e vejo as sacolas do lugar que pedimos comida. Eu pensando que ela teria comido tudo só pra me irritar e no fim ela não comeu foi nada.

Ela só pode estar testando a minha paciência.

Ao fechar a geladeira, observo um bilhete escrito a mão. A letra não é a da Marina e sim da Malu. Pego na mão e leio em voz alta.

"Marina saiu logo após você, ela me pediu pra não falar, mas elas estão no Mario e acho que vão dormir lá. Ela me pediu pra vim embora, mas se caso precisar de algo é só me ligar.
Maria Lúcia"

Logo á baixo do nome dela, há um número que trato de ignorar. Coloco o bilhete na geladeira de volta e sigo mais tranquilo pra sala. Se ela foi pra casa do Mario e não para o seu apartamento, é um sinal que ela só foi se acalmar e não embora de vez.

Procuro meu celular pela casa e o encontro descarregado, conecto o carregador no aparelho e espero um tempinho até ele finalmente carregar um pouco. Ligo  meu celular e mando uma mensagem pro Mario perguntando se elas estavam bem, fico ali olhando a tela esperando uma resposta, que não vem e isso me preocupa.

-foda-se, vou atrás delas-falo sozinho e dessa vez pego a chave do carro







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Oii meus amores 😍❤️