quinta-feira, 30 de março de 2017

Capítulo 150 - Crueldade

Luan

Depois de chegar em Goiânia, passar em um restaurante pra almoçar, seguimos pro hotel e dormimos até a noite, quando o celular da Marina despertou nos avisando que está na hora de se arrumar!

Tomamos um banho juntos oferencendo carinho um ao outro. Depois de sair nos arrumamos rapidamente.

Juliana chega no quarto e me olha encantada.

-o que?-pergunto revirando os olhos
-ela não te deixa atrasar nunca, vocês estão sempre dentro do horário previsto, como ela consegue não sei, mas gosto disso
-ela diferentemente de mim presta atenção nos horários que você ou o Rober avisa, ela fica muito focada em me aproveitar e não atrasar, se eu não me engano acho que nunca atrasei nas vezes que ela viajou comigo
-eu acho que não mesmo-ela confirma

Marina sai do banheiro maquiada. Me surpreendo ao ver que ela não está tão simples. Eu amo quando ela quase não se maqueia, mas vê-la maquiada me fez repensar meus gostos.

-vamos?-ela me entrega minha mochila e coloca sua bolsa no ombro
-você está muito linda-elogio sem nem pensar e ela sorri toda linda
-que bom que gostou-se estica toda e me dá um beijo rápido
-sei que vocês são bastante loucos um pelo outro, e que a Marina tá gata, mas agora precisamos ir né?!-Juliana chama nossa atenção e nos afastamos
-vamos

Saío na frente e a Marina vem atrás, tranca a porta e entrega o cartão pra Juliana.

-obrigada-ela agradece e vejo a Marina arregalar os olhos
-não questiona-sussurro rindo e ela retribui com outro sorriso

Descemos até a van no subsolo e a Jujuba foi até a recepção. Assim que ela volta seguimos até o local da gravação do show da virada.

Chegamos e já fomos pro fundo, onde os artistas entram e ali está lotado de fãs, cartazes, todo mundo gritando e pedindo um pouco de atenção.

Desço de mãos dadas com a Marina e começo a pegar nas mãos ali. Paro pra algumas selfies e sigo o caminho do camarim atendendo. Marina tenta se soltar, mas eu não deixo, quero que ela sinta essa energia junto comigo.

Escuto algumas pessoas chamando ela e ela protamente me empurra até essas pessoas e juntos nós atendemos com um sorriso no rosto.

Cirilo como sempre me manda seguir, pois não tenho mais tempo. Asseno pra todos e mando beijos. Entramos pela porta de acesso e o negão nos guia até o camarim. Logo atrás de nós está Juliana e Rober que sentem o quão calorosa minhas fãs são.

-cara que energia foda-comemoro e a Marina me abraça de lado
-é bom atender com você-ela sussurra-falo com elas e ainda me sinto protegida-me olha e eu paro pra beijar sua boca
-anda viado-Testudo para atrás de mim
-ave-reclamo

Ali há tantas carinhas diferentes em camarins diferentes, porém uma me chama atenção. O Jeferson também está aqui. Me lembro da música que vou cantar com a Marília e sorrio animado. Daria tudo pra ver a cara dele.

Ao entrar no meu, vejo que ali tem diversas coisas pra se comer, inclusive um arroz com pequi e frango com quiabo. Salivo olhando aquelas comidas. Marina coloca a culpa na gravidez e corre pra mesa, já eu, vou me preparar pra atender no outro camarim e só depois eu comeria.

Marina bebeu tanto suco enlatado que vi sua barriga crescer e ela reclamar que está com a bexiga cheia.

-onde é o banheiro?-me pergunta e eu olho pros lados
-acho que é ali, aponto pra uma portinha discreta
-obrigada-me dá um selinho e vai

Observo ela e quando ela abre a porta vejo que realmente é a porta do banheiro.

Aproveito sua distração lá e posto uma foto nossa nas redes sociais.

"E passe o tempo que passar, o nosso amor renascerá como flor na primavera🎶❤🌹"

Seu celular começa a tocar insistentemente e eu vejo na tela que é o Mario o autor da ligação. Não vejo problema algum em atender.

Pego seu celular e coloco na orelha depois de deslizar o dedo pra atender.

Ligação on📲
-fala Mario, tudo bem?-pergunto e escuto um barulho estranho
-oi, você é parente do Mario?-escuto um homem dizer, não conheço essa voz e isso me preocupa
-a minha mulher é quase irmã-conto e vejo o Rober me olhar atento
-é que aconteceu algo meio chato-o homem parecia receoso
-fala logo meu senhor, que tô ficando preocupado
-o senhor Mario estava saindo de um bar acompanhado de um parceiro, eles estavam e mãos dadas quando trombaram com três valentões, os caras começaram a xinga-los e eles ignoraram, com raiva os homens disseram que viado tem que morrer e partiram pra cima dos dois, eles apanharam muito, estão desacordados e eu estou esperando o samu chegar juntamente com a polícia. Eles apanharam muito, levaram muito soco e os covardes ainda tiveram a maldade de bater nas pernas deles com um pedaço de pau-ele encerra e eu simplesmente estou boquiaberto, como pode ter seres humanos assim?-eu vi tudo de longe, eu também sou gay e sei que se eu me aproximasse eu apanharia também, eu tive medo-ele diz dessa vez um pouco emocionado e triste
-como conseguiu a senha desse celular?
-ele me entregou antes de ficar desacordado, ele me pediu pra ligar pra Marina
-um número vai ligar aí, é o meu pai, ele vai passar umas instruções pra você e você passa pros socorristas, quero o Mario e o amigo no melhor hospital de São Paulo,  obrigada por avisar-desligo
Ligação off📲

Dígito uma mensagem pro meu pai e mando o número do Mario junto. Ele até me liga pra entender, mas digo que não posso atender, pois a Marina sairia do banheiro a qualquer hora. Inclusive ela está demorando demais.

-fala rapidamente o que houve-o testa pedi e sinto um nó na minha garganta
-Mario e um companheiro estavam de mãos dadas na rua quando foram abordados por três valentões que os espancaram, pois eles são gays-resumo e vejo seu olhar de tristeza e repugnância igualmente a mim

Marina sai do banheiro e eu simplesmente não consigo disfarçar a minha cara, assim como o Testa também não.

-o que houve?-ela pergunta assustada e eu suspiro colocando um sorriso no rosto
-nada não, o Testa tava me contando uma história de criança com um cara
-o que? Você foi violentado?-ela pergunta e nós dois mesmo sem querer rimos
-lógico que não-revira os olhos

Juliana aparece na porta e me avisa que eu preciso ir pro outro camarim. Guardo o meu celular no bolso e o da Marina também, pra não ter perigo dela ver ou saber de algo.

Me despeço rapidamente tentando parecer feliz e sigo pro outro camarim. Rober vem junto, pois não quer ser perguntado toda hora sobre o que houve e acabar contando.

Tento parecer normal no atendimento, mas não consigo. Pensar no tanto que o Mario sofreu e está sofrendo não é legal.

Entre uma fã e outra, sinto um dos celulares tocar, mas não atendo. O atendimento por ser em um evento tão grande que é o show da virada, demorou muito e isso me agoniou. Meu coração estava pequeno dentro do peito. Quando finalmente termino o atendimento, eu suspiro pegando meu celular. Havia ligações perdidas do meu pai. Ligo de volta e ele atende rapidamente.

Ligação on📲
-e aí pai?
-deu tudo certo, eu tô com o Mario agora, ele meio que acordou e pediu pra avisar apenas a Marina, disse que não é pra avisar a família dele-meu pai suspira
-eu vou avisar, mas não agora, ele está bem?
-o rosto está um pouco inchado, pois ele apanhou de soco e em algumas tentativas ele conseguiu proteger, porém a perna dele foi quebrada, assim como um dos braços. Ele está sentindo muita dor na barriga, mas tem um problema
-o que pai? Fala logo
-o companheiro dele levou pauladas na cabeça-ele começa a sinto meus olhos arderem-ele faleceu
-meu Deus-me sento e abaixo a cabeça
-eu fui até o local, o samu demorou demais, eu vi o estado dos dois, eu pensei que nenhum tinha consigo escapar, quem fez isso foi de uma crueldade que dói
-será que a gente consegue mudar a ordem aqui? Preciso contar pra Marina, ela precisa ir prai
-ela está grávida-ele avisa
-tá com o celular dele?-pergunto preocupado
-sim, o moço que estava com eles me devolveu
-procura ai o número da Hellen, liga pra ela, ela fica aí até eu conseguir levar a Marina-suspiro
-quer que eu cancele o show de amanhã?
-eu vou falar com a Marina, se eu ver que ela está muito exaltada sim, ela não pode ficar nervosa
-tudo bem, me avisa ok?
-obrigada pai, não sai daí não tá?-peço
-eu não vou-nos despedimos e desligamos
Ligação off📲

-e aí?
-Ju você não consegue adiantar?-imploro e ela nega
-infelizmente não, me conta o que houve-ela pedi
-o cara que tava com ele morreu-conto e o Testa se assusta
-tô ficando preocupada-Juliana diz
-não consigo contar-falo com a voz embargada e sinto ela me abraçar-imagina se a Marina tivesse atendido-olho pro meu amigo
-fica calmo, a gente precisa voltar pra lá
-vamos então-me levanto e engulo qualquer resíduo de choro

Seguimos pro camarim e a Marina não está ali. Escuto minha barriga roncar e coloco um pouco de comida. Como pensando em tudo e pensando em como minha pequena reagirá.

Depois de comer paro pra pensar na situação e escuto a porta abrir, continuo quieto e olhando pra baixo. Até ver a Marina parar na minha frente.

-por que tá chorando amor? Me conta logo o que aconteceu?-ela levanta meu rosto e eu limpo uma lágrima que havia escorrido na hora errada





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Só vim jogar essa bomba aqui e tô indo embora, pois ainda não quero morrer.
E ah, isso não é tão ficção, isso acontece nos dias de hoje e repugnante!!

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